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Conhecimento contemporâneo sobre Deus, sobre a evolução e o significado da vida humana.
Metodologia de desenvolvimento espiritual.

 
Uma História de Verdadeira Magia
 

Amáveis Contos de Fadas/Uma História de Verdadeira Magia


Uma História de Verdadeira Magia

Narrado por Bayan


Há muito tempo atrás, vivia na Terra um menestrel e contador de histórias. O seu nome era Bayan. De facto, o seu nome literalmente contava a sua própria história, porque veio da palavra muito antiga bayat, que significa contar histórias. Este era um nome conhecido por muitas pessoas nos tempos antigos, e em todos os lugares significava portador da verdade, orador da verdade, e aquele que expõe a sabedoria com clareza.

Bayan costumava viajar por aldeias e cidades com o seu saltério*, entoando as suas canções e contando as suas histórias.

Ele era um homem alto, com um físico poderoso e semblante agradável. O seu cabelo, porém, tinha ficado grisalho, mesmo sendo um homem jovem. Mas a dor ou infortúnio que fez com que o seu cabelo ficasse branco como a neve foi algo que Bayan nunca contou a ninguém.

As canções que entoava eram apenas sobre amor, alegria, bondade, como ser feliz, e como viver uma vida justa na Terra. Contava fábulas sobre os heróis das lendas populares e recontava histórias para elevar e transformar a alma.

E foi assim que Bayan caminhou pela Terra por muitos anos. Não tinha família, nem lar, nem filhos.

No entanto, aqueles foram anos de grande tormenta. Príncipes e nobres lutavam entre si, dividindo terras e matando-se uns aos outros, para ganharem domínio. As populações também discutiam as velhas crenças estabelecidas, e as novas, que vinham de fora.

Mas essas discórdias surgiram porque eles tinham-se esquecido da Verdade do Deus Único!

Esta era a Verdade que Bayan cantava, da qual falava nas suas histórias e fábulas. O seu coração, como um sol, ardia de amor! As suas palavras de sabedoria ensinavam como a paz podia existir na Terra e como as pessoas podiam viver com bondade de coração!

* * *

Certo dia, Bayan estava a tratar dos seus assuntos, quando reparou no fumo que saía de um lugar onde um fogo ardia: pessoas más haviam incendiado uma aldeia!

Andando sobre as cinzas, Bayan não conseguiu encontrar ninguém com vida.

Então, de repente, bem na periferia da aldeia, ouviu uma criança a chorar, como se o choro viesse do céu! Era como se todo o mundo à volta chorasse por aqueles atos de pessoas cheias de maldade!

Bayan notou que, de uma grande bétula, pendia uma cesta com um bebé lá dentro, milagrosamente são e salvo! A mãe, evidentemente, tinha conseguido esconder a criança, pendurando-a no alto da árvore!

Bayan baixou a cesta e pegou a criança nos braços.

O bebé era, afinal, uma pequena menina, ainda em idade de mamar, que precisaria de ser alimentada com leite materno!

Ele deu-lhe um pouco de água do seu frasco e partiu para encontrar uma mãe que amamentasse. Afinal, seria bastante inconveniente para um menestrel errante continuar a sua ocupação nas aldeias e cidades com um bebé para cuidar!

Ele procurou e procurou por muito tempo, mas ninguém estava disposto a receber o bebé na sua família! Na verdade, teve sorte em encontrar uma mulher de bom coração que estava disposta a amamentar a pequenita.

“A vida já é de fome e difícil o suficiente para nós”, diziam a Bayan. “Não temos nada para alimentar os nossos próprios filhos!” E assim ninguém tomou a menina no seu lar e família.

Foi assim que a menina ficou com Bayan, e ele deu-lhe o nome de Vassilisa.

Ela acabou por tornar-se na filha amada de Bayan, e ele o seu sábio e amável pai.

* * *

Vassilisa cresceu rapidamente, tendo visto muitas coisas, vivendo uma vida errante ao lado de Bayan! E aprendeu muitíssimo mais ao escutar as suas histórias e canções, e recebendo a sua sabedoria.

Vassilisa estava certa de que Bayan sabia tudo, conhecia as coisas comuns do mundo e todo o tipo de magia.

Na verdade, Bayan sabia como contar de uma forma tão mágica que dava vida aos personagens das suas histórias, e cada conto transformava-se numa realidade viva. Ele descrevia o canto de um pássaro e as pessoas conseguiam vê-lo e ouvi-lo! Quando Vassilisa ainda era uma criança, chegava a aproximar-se e acariciar o pássaro, o esquilo, ou a lebre da história.

Certo dia, Vassilisa fez o seguinte pedido a Bayan:

“Ensina-me a fazer magia de verdade!”

“Que tipo de magia?”

“Como nas tuas histórias. Como coser e bordar uma camisa numa só noite, como assar o pão mais saboroso que se pode encontrar.”

“Ainda não posso fazer isso, filha minha. Como vou ensinar-te a fazer pão mágico, se ainda nem sequer sabes fazer um pão comum? Ainda não fiaste um fio simples, ainda não bordaste nenhum padrão com as tuas próprias mãos, como poderei ensinar-te a fazer padrões mágicos numa camisa mágica?”

Daquele dia em diante, sempre que eram convidados a entrar numa casa, Vassilisa aproveitava todas as oportunidades para ajudar a dona de casa com o seu trabalho. Ela ficava ao lado dela, a fazer pães e bolos, a preparar sopa de beterraba ou aveia, e a fiar lã. Desse modo, aprendeu não só a costura básica, mas também o bordado. Começou a costurar padrões com agulha e linhas na camisa de Bayan, e nos seus próprios vestidos.

Bayan indicava sempre coisas a Vassilisa: “Vê como as folhas e as flores parecem abraçar-se, e que beleza verdadeiramente mágica resulta disso! Observa, Vassilisa, como esta beleza natural pode produzir o mais belo padrão em tecido!”

Ele também chamava a sua atenção para as cores das asas de uma borboleta. “Vê que roupas requintadas Deus deu a vestir a esta borboleta! Se também observares a beleza dada por Deus, tu mesma terás habilidade para criar beleza!”

Bayan também ensinou a sua filha a contar, a ler, e todas as outras coisas importantes que ela precisaria na vida!

Normalmente, ele reservava estas lições apenas para Vassilisa. Mas, às vezes, crianças de toda a aldeia reuniam-se, e depois das suas histórias, Bayan também lhes ensinava a ler e a escrever.

Muitas vezes acontecia que nem Vassilisa, nem as outras crianças conseguiam dominar as coisas novas que aprendiam imediatamente, e eis o que Bayan lhes dizia:

“Como tudo na vida, é intenção de Deus que se leve tempo para que diferentes seres adquiram sabedoria, força, beleza e perfeição. Olhem para o botão de uma flor: não cresce num único dia. Os estames e pétalas formam-se lá dentro. E só mais tarde, quando chegar a hora certa, uma bela flor desabrocha!

Do mesmo modo, um passarinho não pode voar assim que nasce, as suas asas devem ganhar força, ele deve superar o seu medo e fraqueza, e só depois aprende a voar pelos ares!

E o mesmo acontece com as pessoas. Não conseguimos a mestria logo no princípio. Demora tempo!

E Vassilisa cresceu, adquirindo conhecimentos sobre os modos do mundo e aprendendo a bondade de Bayan.

Mas ele não era apenas um mestre no conto de histórias, também sabia sobre ervas medicinais e sabia tratar pessoas e animais. Isso foi algo que Vassilisa também tentou aprender, que ervas colher e como, e para que doenças elas poderiam ser benéficas.

Os animais da floresta não tinham medo algum de Bayan. Vinham ter com ele para pedir ajuda, como se soubessem que não lhes faria mal e que trataria das suas feridas e doenças.

Para Vassilisa, o mundo natural era algo amável e maravilhoso! E os animais da floresta eram como amigos!

Vassilisa cresceu, tornando-se ousada e inteligente. Bayan assegurou-se de que ela ganhasse habilidade, não só a gerir uma casa, como também a galopar um cavalo, e pudesse assim superar jovens de qualquer aldeia. Se houvesse uma competição amigável de luta com bastões, ele ensinava-a a sair-se tão bem como qualquer outro rapaz. Onde quer que lhe faltasse força, Vassilisa sempre vencia com a sua inteligência e agilidade!

E ela estava bastante disposta a aprender tudo e qualquer coisa com Bayan!

* * *

Um dia eles estavam sentados à fogueira na floresta, descansando depois da sua longa jornada.

“Onde é que descobres as tuas histórias, canções e músicas?”, perguntou Vassilisa a Bayan.

“No silêncio!”

“Mas como assim? Existe alguma magia no teu saltério?”

“Porque não experimentas tu mesma?”

“Não funciona, quando eu tento. Mas, contigo, parece que o saltério toca por si mesmo!”

“Isso acontece porque consigo ouvir a música que o saltério quer tocar!”

“Mas eu não consigo ouvi-la…”

“Começa por escutar o que o saltério não toca. Quando não toco o saltério, o silêncio à sua volta é mágico e especial. Podemos aprender a escutar esse silêncio. E assim, nesse silêncio, tudo se torna claro e maravilhoso!

E podemos aprender a escutar o silêncio, não só do saltério, como também da floresta, do lago, e da pradaria, quando não há vento. Nesse silêncio também podemos ouvir o que o riacho está a dizer, o que o pássaro está a cantar, o que o vento está a contar-nos, que pergunta o sol gentil está a fazer, o que as árvores estão a sussurrar, e o que as estrelas e a lua brilhante estão a esconder de nós.”

E foi assim que Vassilisa começou a aprender a escutar o silêncio. E quando aprendeu a entrar no espaço do silêncio transparente, foi um sentimento maravilhoso para ela! Era como se ela mesma estivesse num mundo mágico, um mundo onde Deus estava a seu lado e nada de mal poderia acontecer!

À medida que Vassilisa aprendia com Bayan sobre o mundo da Bondade e Beleza Divinas, surpreendia-se e perguntava-lhe:

“Porque é que as pessoas ficam tristes quando o mundo de Deus é tão bonito? Porque sofrem, padecem de dor, se preocupam e morrem? Porque é que discutem e se matam?”

“Não é fácil responder â tua pergunta, Vassilisa! Ora, uma pessoa não é um corpo, mas uma alma viva! O corpo é como se fosse um vaso onde Deus verte uma alma, para que essa alma possa crescer e desenvolver-se!

O corpo cresce, depois envelhece e morre. Mas a alma não perece!

Uma alma pode viver sem o corpo num mundo de luz e beleza, se tiver aprendido a estar num estado de amor e bondade. De contrário, se viveu com raiva ou medo, o mundo à sua volta também se tornará cruel! O destino de tal pessoa será amargo!

E mais, tende a existir um laço entre o destino de uma pessoa e a forma como conduz os seus assuntos.

Por isso, eu e tu precisamos de contar às pessoas como podem viver na amabilidade que vem do coração, tentar restaurar a boa vontade em cada pessoa, e impedir as más intenções!

Gostarias que te ensinasse a dançar de modo que o amor e a luz na tua dança se tornem visíveis às pessoas?”

“Sim, sim, gostaria!”

“Bom, observa como a chama parece, de alguma forma, dançar na nossa fogueira! Agora, tenta dançar assim!”

Vassilisa, assim tentou. O seu corpo parecia mover-se autonomamente, numa bela dança!

E agora, tenta imitar como o gentil sol matinal brilha a partir do teu coração, acariciando e abraçando todas as pessoas com os braços dos seus raios!

A sua dança tornou-se cada vez mais bela, à medida que os seus movimentos se enchiam de amor do coração!

Claro, foi preciso mais do que um dia para que Vassilisa aprendesse isto, mas em cada ocasião a sua dança tornava-se ainda mais bela! E, graças a isto, também ela, como alma, se tornava cada vez mais bela!

Vassilisa e Bayan começaram a atuar para as pessoas. Ela dançava ao som da música que ele tocava, iluminando tudo à volta com o calor do seu coração!

* * *

Um dia, chegaram a um grande povoado. Ao lado do povoado havia a residência de um rico príncipe, cercada por um muro de pedra. As divisões eram revestidas de pedra branca, com torres altas. Havia muitos servos, e soldados, e guardas nos portões.

“Bom, então onde vamos cantar primeiro, Vassilisa: no povoado ou na residência do príncipe?”

“Na residência do príncipe! Nunca vi casas e torres assim!”

Bateram ao portão. Os guardas vieram cá fora. Quando viram que Bayan tinha um saltério, deixaram-no entrar, pensando: “O príncipe Mstilav tem convidados, estão num grande banquete. Estão a preparar-se para uma campanha militar. O príncipe está a reunir os seus aliados. Estávamos mesmo a precisar de um trovador!”

Escoltaram Bayan e Vassilisa até ao banquete do príncipe e seus convidados.

As salas eram opulentas, com tectos pintados, janelas envidraçadas, decoradas com padrões coloridos, os pratos eram de ouro e prata, as mesas repletas de comida!

O princípe não convidou Bayan e Vassilisa, esfomeados e cansados da sua longa viagem, a comer. Em lugar disso, disse-lhes:

“Bem, trovador, mostra-nos de que és capaz! Entretém-nos!”

Bayan começou a entoar as suas canções com Vassilisa a dançar.

Mas os convidados mal os escutavam ou olhavam na sua direcção.

Tinham ficado demasiado alegres, depois do vinho que tinham bebido!

Então, o príncipe perguntou a Bayan:

“Ouvi dizer, Bayan, que consegues ver tanto o futuro como o passado! É verdade?”

“Posso ver o passado e conheço o presente. O futuro, em grande medida, é uma questão da própria vontade do ser humano”, respondeu Bayan ao príncipe. Mas posso dizer alguma coisa sobre o que o futuro poderia reservar.”

“Então, diga a cada convidado que assim o desejar, o que ele quiser saber!”

“Muito bem, senhor!”

Os convidados começaram a fazer as suas perguntas, e Bayan deu-lhes as suas respostas.

No princípio tudo foi muito leve.

“Qual é o nome da minha esposa?”, perguntou um.

Ou, “Quantos filhos e filhas eu tenho?”

Bayan respondeu a todas as perguntas corretamente, deixando os convidados surpreendidos e risonhos.

E assim a diversão continuou, por algum tempo.

Mas foi então que o próprio príncipe fez uma pergunta.

“E como vê o meu futuro? A vitória está-me reservada, a campanha iminente?”

Bayan respondeu:

“Vejo as suas muitas vitórias, Príncipe Mstislav. Também vejo muitos soldados derrotados nessas batalhas. Vejo outros príncipes que se submeteram a si. Vejo aldeias e cidades devastadas. O seu poder será grande! Vai inspirar medo e respeito entre outros príncipes! Mas também vejo tristeza. O seu poder terreno trará a desgraça para o seu filho! O seu futuro não será feliz! Depois da sua morte, o seu principado será vencido e subjugado por outros.”

“Como ousa fazer tais previsões para mim?!”, disse o príncipe, iradamente.

“Esta previsão não é um futuro predestinado, mas antes um aviso. Está em seu poder evitar que aconteça! Se não semear a morte, a tristeza não entrará na sua vida!

A coragem tem muitas faces diferentes! O poder do bem e o poder do mal não são a mesma coisa!

Agora as pessoas matam-se umas às outras devido às suas diferentes crenças, às riquezas, ao poder, terras, ou a queixas mesquinhas. A vingança alimenta esse tipo de banho de sangue.

Actualmente, o a coragem, a honra, a justiça e a força não contam muito nos valores dos seres humanos, mas deveriam!

Há confusão entre as pessoas, sobre a diferença entre o que é pecaminoso e o que é bom!

Falam de “raiva justa” e de “guerra santa”. Mas não há ódio justo! E matar não pode ser santo!”

Nesta altura, o príncipe não conseguiu conter a sua raiva e ordenou que os seus guardas prendessem Bayan e o trancassem na masmorra.

Vassilisa não sabia o que fazer! Começou por tentar proteger Bayan e lutar contra os guardas. Mas era absurdo, uma jovem contra tantos soldados!

Bayan disse: “Vai embora, minha filha, o mais rápido que puderes!” Mas Vassilisa não ouviu. Um dos guardas agarrou-a enquanto todos os outros atacavam Bayan, levando-os em seguida para a masmorra do príncipe. Trancaram-nos no subsolo, atrás de grades.

Vassilisa chorou, mas Bayan afagou a sua cabeça e consolou-a. Começou a pensar como poderia salvar a sua filha.

Ele não temia a morte, nem mesmo a morte mais cruel. Mas estava determinado a tirar Vassilisa dessa situação, a todo o custo!

Vassilisa disse, por entre lágrimas:

“Porque é que eles são pessoas tão más? Porque é que nem sequer o ouviram? Estava a falar sobre bondade, sobre justiça! Estavam todos a comer e a beber, mas nem nos convidaram para a mesa! Em troca de toda a nossa bondade, trancaram-nos na masmorra! Porquê?”

“Muitas vezes acontece, Vassilisa, que as pessoas não percebem o que há de mau em si mesmas.

Nem toda semente plantada cai em terra fértil. É por isso que nem toda a semente cresce!

Não fiques triste! Come alguma coisa.”

Bayan tirou do bolso um pequeno pedaço de pão, embrulhado num pano limpo, e o seu cantil com água mineral, que sempre trazia à cintura, entregando-os a Vassilisa.

Vassilisa partiu o pão ao meio e deu um pedaço a Bayan.

“Eu não quero, obrigado.”, disse Bayan, “Come-o tu. Entretanto, vou contar-te uma história mágica.”

E começou a contar a sua história.

* * *

Era uma vez um czar* que tinha três filhos. O mais velho era Kassyan, o do meio Demyan, e o mais novo Ivan.

O seu czarado era pequeno. Poucas pessoas viviam lá. A vida era tranquila e estável. Ninguém brigava ou discutia com os outros. Havia muitas terras agrícolas. Havia terra suficiente disponível para todos os que pudessem trabalhar. O grão crescia bem, ano após ano; nozes, cogumelos e morangos silvestres cresciam nas florestas em abundância. Todos tinham o suficiente, todos estavam contentes!

Podia acontecer, é claro, que um homem e a sua mulher brigassem, ou dois vizinhos se desentendessem nalgum lugar. Nessas situações, o povo reunia-se para os reconciliar. Mas se eles não quisessem fazer as pazes, eram levados ao czar para que ele tomasse uma decisão, e o czar resolvia todas as disputas de maneira justa, para evitar que discórdias e conflitos se enraizassem no seu czarado.

E assim as suas vidas eram vividas, calma e pacificamente.

O tempo passou, os filhos do czar tornaram-se jovens fortes e elegantes. O czar começou a ponderar sobre a qual deles poderia confiar o seu czarado.

Convocou-os e disse-lhes:

“Em breve terei de escolher quem governará depois de mim. Explorem este vasto e grande mundo, procurem guias espirituais, aprendam com eles sobre os caminhos da vida, e depois voltem para casa. Aquele que adquirir o conhecimento mais útil sobre como viver uma vida justa na Terra, e como governar, será aquele a quem passarei o meu poder. Os outros dois serão seus assistentes e conselheiros. Isto foi o que o meu pai me ordenou: que não dividisse o czarado em lotes separados, mas antes criaase condições para que a família vivesse nele amigavelmente.”

Os três filhos curvaram-se perante o pai e partiram na sua viagem.

Caminharam juntos até que, de repente, encontraram uma grande pedra. A partir da pedra havia três caminhos, e na pedra estavam escritas estas palavras:

“Quem seguir pelo caminho da direita obterá grande força.”

“Quem seguir pelo caminho da esquerda obterá enormes riquezas.”

“Quem seguir pelo caminho do meio conquistará o amor, mas perder-se-á a si mesmo.”

Os três filhos começaram a indagar-se sobre que caminho deveriam seguir.

“Devemos seguir o caminho onde vamos conseguir força.”, disse Kassyan, o mais velho. “Precisamos de ser fortes para defender o czarado!”

“Devemos escolher o caminho que nos levará à riqueza”, retrucou o irmão do meio, Demyan. “Se descobrirmos como conseguir riquezas, seremos capazes de subornar qualquer inimigo!”

“Mas para que servem a força e as riquezas sem amor?”, disse o mais novo, Ivan. “Eu iria em frente!”

“Mas está escrito que ao ganhar o amor, nos perderemos a nós mesmos!”, objectaram os outros irmãos. “Por este caminho, podemos não voltar com vida!”

Os irmãos pensaram nas diferentes opções, perguntando-se sobre qual tomar, mas como o pai lhes tinha ensinado a não brigar e discutir, decidiram que cada um colocaria à prova a sua sorte e sabedoria, seguindo o caminho que preferisse.

E foi exactamente isso que fizeram. Abraçaram-se, despediram-se, e cada um seguiu o seu próprio caminho.

* * *

Kassyan, o mais velho, seguiu pelo caminho da direita e deparou-se com uma casinha onde morava um professor. O professor ensinou Kassyan como lutar e guerrear, como derrotar todos os outros e conquistar glória para si mesmo.

Mas o mais velho não se apercebeu de que, à medida que o seu poder crescia, também cresciam o seu orgulho e crueldade, a sua irritação para com aqueles que não o serviam ou não se submetiam à sua vontade.

O tempo passou.

Kassyan adquiriu uma enorme força, conquistou muitas terras, e tornou-se czar de muitas pessoas. O seu czarado tornou-se poderoso, e nessas terras ele era o mais poderoso de todos!

* * *

O irmão, Demyan, foi pelo caminho da esquerda e também encontrou uma casa onde morava um outro professor.

Este professor ensinou-lhe como negociar para ter lucro, obter um grande excedente, aumentar a riqueza e tornar-se realmente muito rico.

Mas o irmão do meio não se apercebeu de como, juntamente com esse conhecimento útil, a ganância e a inveja haviam começado a apoderar-se dele, de como a trapaça e o engano não o envergonhavam na sua busca pela riqueza.

Muito tempo se passou, ele conquistou grandes áreas de terra, e tornou-se o seu czar. O seu czarado tornou-se grande e rico, e nele ele era o mais rico de todos!

* * *

Ivan, o irmão mais novo, seguiu o caminho do meio. Caminhou e caminhou até encontrar uma cabana em ruínas na floresta, na qual vivia uma velhota enrugada.

“Não te vás embora, meu bom jovem!” disse a mulher. “Por favor, corta-me um pouco de madeira, traz um pouco de água e aquece a banheira.”

“Claro, querida anciã!”

Ivan juntou um monte de madeira seca na floresta, serrou-a e cortou-a para lenha, tirou água do riacho e aqueceu a banheira. Isso dificilmente era trabalho para um czar, mas ele completou tudo com habilidade!

A anciã lavou-se no banho de vapor, e quando saiu da tina de banho estava tão jovem que era irreconhecível. Agora Ivan já não podia chamar-lhe “querida anciã”.

“Essa tina de banho que tem é mágica, senhora! Era uma anciã delicada, tomou um banho de vapor e saiu daí cerca de 50 anos mais jovem, ou mais!”

“Com amor e carinho, Ivan, todos ficam mais jovens!”

“Que tipo de amor é esse? Dei-lhe uma pequena ajuda em casa, e agora vou explorar o mundo para encontrar amor verdadeiro!

“Bem, é exactamente assim que as pessoas encontram o amor verdadeiro. No caminho que leva de um acto de bondade a outro!

Ou, por outras palavras, de um pequeno acto de carinho, este caminho leva a uma grande bondade!

Porque é que não tomas um banho de vapor, Ivan? Irás ganhar saúde e força! Enquanto isso, vou preparar algo para comer.”

“Como é que sabe o meu nome?”

“Eu sei muitas coisas! Se quiseres, posso ensinar-te.”

Ivan tomou um banho de vapor e, de facto, sentiu-se mais forte, mas também mais cansado do que nunca. Era como se o seu corpo tivesse sido infundido com pureza e a alma limpa em Luz clara.

Ivan entrou na sala principal, onde a mesa estava coberta com uma toalha branca. Sobre a mesa havia tudo o que se possa imaginar: tartes, panquecas, pastéis que pareciam acabados de cozer, deliciosas conservas e pickles, frutos secos, morangos silvestres, e fruta que ainda nem estava na época!

Ivan ficou surpreendido.

“Como é que fez para preparar um tal festim?”

“Esta é a minha toalha de mesa mágica! Tudo o que eu desejar aparece nela imediatamente!”

E começou a encher o prato de Ivan com tudo o que ele queria.

Terminaram a sua refeição e deram graças a Deus pelo festim.

A seguir, a toalha de mesa enrolou-se sozinha, e a mesa ficou vazia!

“Essa sua toalha de mesa é realmente incrível, senhora!”

“Tenho mais duas curiosidades mágicas: um tapete voador e um chapéu de invisibilidade. Por me teres ajudado, vou oferecer-tas.”

“Essas são coisas úteis para um viajante. Mas como irá você sobreviver sem elas?"

“Oh, não te preocupes, vou desenvencilhar-me muito bem!”

Ivan agradeceu à mulher, agarrou nos seus presentes e seguiu o seu caminho.

Enquanto avançava, a sua curiosidade foi tomando posso dele, e acabou por decidir experimentar os objectos mágicos que a mulher lhe dera.

Desenrolou o tapete e descobriu que sim, flutuava no ar! Mas também descobriu que não conseguia colocar-se em cima dele — o seu corpo caia uma outra vez! Tentava pôr uma perna sobre o tapete, mas esta atravessava-o e caía ao chão!

Ivan desenrolou a toalha de mesa mágica. Estava repleta de mais coisas apetitosas do que alguém poderia imaginar, os cheiros eram de fazer crescer água na boca. Mas era impossível tocar a comida, segurá-la com a mão, ou colocá-la na boca.

Experimentou o chapéu de invisibilidade, pondo-o na cabeça de todas as maneiras possíveis. É verdade que o chapéu desaparecia, mas Ivan permanecia visível! Quase perdeu o chapéu completamente, mal conseguia encontrá-lo assim que se tornava invisível!

“Oh! Fiquei com estas coisas, mas não perguntei como funcionam!” pensou Ivan, e voltou à cabana da mulher em busca de maior sabedoria.

“Por favor, diga-me como funcionam as suas curiosidades mágicas, senhora! Como posso voar no tapete, comer da toalha de mesa e desaparecer com o chapéu?”

“Bom, meu jovem, é necessária mestria para que os milagres aconteçam. Aqueles que ainda não alcançaram sabedoria suficiente, não conseguem fazer magia!”

“Ainda bem que não te exibiste à frente das pessoas com estas curiosidades, pois terias passado por tolo!”

“Pode ensinar-me aquilo de que fala?”

“Sim, posso!”

“Mas, afinal, quem é a senhora?” perguntou Ivan com surpresa.

“Eu sirvo Deus, e tento estabelecer e manter a ordem aqui na Terra!

Mas não sou a única pessoa assim no mundo inteiro. Tenho Irmãos e Irmãs na Luz Divina! Todos eles servem Deus e ajudam as pessoas a descobrir a Verdade!

E assim Ivan começou a aprender com a mulher.

Ela começou por lhe explicar como amar todos os seres — filhos de Deus! — com o amor do coração.

Assim lhe disse ela:

“No tórax, onde o ar enche os pulmões, há um lugar especial. É aqui que o amor do coração cresce. Quando alguém aprende esse amor, passa a conseguir sentir Deus, porque a principal qualidade de Deus é o Seu Amor Infinito, Gentil e Sábio, por tudo e por todos!

Pois Deus é o Criador de todas as coisas! Ele é o Pai e a Mãe de cada um de nós!

Portanto, precisamos de aprender a amá-Lo!

E então Deus poderá, através de quem tiver aprendido isto, demonstrar o Seu Amor pelos seres humanos e outros seres! E assim o Amor Divino se manifestará e florescerá, tanto em grandes actos de bondade como naqueles que, à primeira vista, parecem até insignificantes!”

E assim a mulher ensinou Ivan a brilhar com o coração espiritual, tal como brilha o sol.

Depois, ensinou-lhe a ser o Fogo Inextinguível do Amor.

“O Grande Poder de Deus está no Fogo Divino do Amor. Este Fogo também pode acender-se no coração espiritual de cada ser humano! Quem escuta Deus pode ligar-se a esse Poder para ajudar e proteger todos os seres!”

Ela também ensinou Ivan a saber substituir a sua própria vontade pela Vontade Divina, e a viver na Luz Divina. Mas isso também significava perder-se a si mesmo e, em troca, adquirir Amor, Sabedoria e Poder Divinos! Era isto o que as palavras na pedra significavam!

Ensinou Ivan a ser uno com a Vontade Divina, para que pudesse sempre entender e sentir os Desejos de Deus e diferenciá-los dos seus, para que ele pudesse viver de acordo com o Mandamento Divino, e não de acordo com a sua própria vontade. Foi assim que Ivan adquiriu o Grande Poder Divino — o Poder do Amor e do Conhecimento Divinos!

Com a mulher, também aprendeu como tornar o seu corpo leve — assim já podia andar no tapete voador. Aprendeu a tornar o corpo invisível, e a desaparecer com o chapéu da invisibilidade. E aprendeu como tirar qualquer coisa da Luz Divina — a toalha de mesa mágica começou a obedecer-lhe.

Também aprendeu a passar através da dureza desta terra e de qualquer outro objecto material.

Ivan perguntou à mulher:

“Porque preciso agora destas coisas mágicas? Já consigo fazer qualquer magia mesmo sem elas!”

“Leva-as contigo, talvez sejam úteis para outra pessoa! No teu caso, foram de grande ajuda. Aprendeste o conhecimento especial.”

E desta forma começaram as suas despedidas.

“Obrigado por este conhecimento, senhora!”, disse Ivan.

“Espera um pouco, não vás ainda! Há uma coisa que gostaria que fizesses.

Olha para aqui.”

Ela apontou para a superfície do lago, calma como um espelho. De repente, uma imagem surgiu na água — uma donzela de beleza surpreendente!

“Esta é Marya, a filha do czar*”, disse a senhora. "Foi sequestrada por um feiticeiro malvado. Ele queria casar-se com ela, possuir a sua beleza, e submetê-la à sua vontade. Mas Marya não aceitou! Ele mantém-na numa masmorra, numa montanha de cristal.

Tudo o que foi criado por Deus é destinado ao bem e tem um propósito. Mas às vezes os seres humanos não entendem a Intenção Divina, e algo que foi designado para o bem por Deus pode então trazer infortúnio.

Tomemos, como exemplo, o fogo. Ele pode aquecer com o seu calor, mas também pode trazer destruição através de incêndios terríveis.

Ou a água. Pode saciar a nossa sede, nutrir as plantas através da chuva, reabastecer os rios e mares, e dar vida a todos. Mas, também pode produzir inundações, destruição e desastres.

O mesmo acontece com todas as capacidades humanas: elas podem ser boas e úteis, ou más e destrutivas.

Este feiticeiro, uma pessoa má, aprendeu a fazer magia e depois começou a usar a sua feitiçaria para satisfazer os seus próprios desejos malignos.

Foi viver numa montanha e começou a tentar impor o seu próprio caminho a todos em redor. Também espalhou rumores sobre como o seu poder “dominava por toda a parte sob a terra”, a fim de fazer com que as pessoas tivessem medo dele e se submetessem à sua malvada vontade!

Deves derrotar o feiticeiro e quebrar os feitiços que ele lançou! Então, poderás dizer a todas as pessoas que o mal não “vive sob a terra”, e sim nas almas com tendências para a ignorância e o vício que vem dela.

Diz ao povo que o Czarado de Deus está em toda a parte, tanto sob quanto sobre a terra. Em todos os lugares, Deus é Todo-Poderoso! E o amor abre caminho para que os corações humanos vivam no mundo de Deus!

Agora sobe a bordo do tapete voador e voa! Levar-te-á até onde o feiticeiro malvado estabeleceu o seu governo e onde mantém Marya prisioneira!"

A mulher disse-lhe como entrar na montanha e aconselhou-o a colocar o chapéu da invisibilidade antes de o fazer, porque era defendida por guardas-guerreiros enfeitiçados pelo feiticeiro.

Ivan agradeceu à mulher pelos ensinamentos e pelos dons Divinos, subiu ao tapete voador, e lá foi ele a voar.

* * *

Enquanto Ivan, o filho do czar, voava, admirava a beleza da Terra, os prados, a vastidão da estepe, as florestas densas e altas, os lagos e os rios claros!

O tapete mágico pousou diante da montanha. Ivan enrolou-o e colocou-o na bolsa. A seguir, colocou o chapéu da invisibilidade.

Subiu à montanha, dizendo: “Deixa-me entrar, montanha, não tenho mal em mim! A Luz sempre se funde com a Luz. Qualquer barreira contra ela desaparece!”

E então, a montanha abriu-se diante dele.

Os guardas-guerreiros deixaram-no passar porque não podiam vê-lo.

Ivan entrou, maravilhado. No interior havia abóbadas de cristal decoradas com pedras preciosas e padrões dourados. Os rios corriam entre margens de ouro e prata.

O feiticeiro percebeu que algo de errado se passava no seu domínio: um intruso tinha conseguido entrar, e aproximava-se dos seus aposentos.

Usando o seu poder invisível, confrontou Ivan, falando com ele com uma voz assustadora que parecia saída do ar.

“Quem é você? Como entrou aqui?”

“Eu sou Ivan, filho do czar!”

“Como é que os guardas permitiram que entrasse?”

“Uma gentil mulher deu-me este chapéu!”

“Não será capaz de se esconder de mim!”

Então, Ivan tirou o chapéu da invisibilidade e disse-lhe:

“Não tenho intenção de me esconder! Vim vê-lo a si, romper os seus feitiços malignos e libertar Marya, a filha do czar!”

“Não ouse ir mais longe! Não verá Marya, ela é minha! Tudo aqui é meu! A Terra é minha! O ouro é meu! As pedras preciosas são minhas! Aqui existem apenas o meu domínio e poder! Vá-se embora, ou destrui-lo-ei!”

“A Terra não é sua, mas de Deus! Seja acima ou por baixo da superfície, Deus é o Senhor de tudo e de todos, em todos os lugares! A Sua Ordem não deve ser violada! Todo o domínio humano é temporário, todo o poder humano não é nada perante o Seu Poder!

E Seu governo é eterno! Não tem o direito de assustar as pessoas com o seu medo mágico e torná-las subservientes a si!

E não pode prender a bela donzela contra a sua vontade!

O feiticeiro começou a lançar-lhe feitiços, querendo assustar Ivan e fazê-lo fugir. Mas Ivan não teve medo, porque o poder do Amor é mais forte do que qualquer temor!

Então, o feiticeiro usou o seu poder mágico para elevar o nível da água subterrânea e inundou a câmara onde Ivan estava. Mas Ivan sobreviveu, saindo ileso da água!

O feiticeiro, de seguida, convocou uma parede de chamas das profundezas da terra, criando um rio de fogo que bloqueou o caminho a Ivan. Mas Ivan, filho do czar, transformou-se no Fogo Divino Inextinguível, encheu o seu corpo com esse Fogo e caminhou ileso pelo rio flamejante como se fosse terra firme!

Ivan estava agora cara a cara com o feiticeiro, que não tinha para onde correr, nem onde se esconder.

“Que poder misterioso é esse, mais forte do que o meu?”, o feiticeiro perguntou.

“Não é um poder meu, mas o poder de Deus! Esse é mais forte do que qualquer poder!”

“Está bem, eu rendo-me! Leve tanto ouro, prata e jóias valiosas quanto quiser. E depois vá-se embora!”

“Não foi para isso que vim. Remova os seus feitiços desta montanha! Não assuste as pessoas com feitiçaria, não subjugue a vontade delas com o seu poder mágico. Não as force a viver com medo, a servi-lo. Não as ensine a admirar o seu poder maligno!

E liberte Marya, a filha do czar! Caso contrário, você mesmo se transformará em pedra por milhares de anos, e ficará aqui imóvel até perceber que o mal não pode ser mais poderoso que o bem!

Se pronunciar mais alguma maldição, o tiro sairá pela culatra, contra você mesmo!”

O feiticeiro assustou-se, e até ficou com medo de pensar, pois os seus pensamentos consistiam inteiramente em feitiçaria maligna.

Ivan, o filho do czar, entrou na câmara mais distante da montanha e viu Marya, a filha do czar, sentada ali, tão bela que não conseguia tirar os olhos dela!

Mas ela estava triste. Cravava pedras preciosas numa imagem de campos verdes, flores de prados, pássaros e outros animais, como se todos estivessem vivos! O sol da foto parecia brilhar e iluminar toda a beleza da natureza!

Ivan fez uma reverência a Marya, a filha do czar.

Marya apaixonou-se por Ivan à primeira vista, e Ivan apaixonou-se por Marya com todo o seu coração!

“Porque estás triste, bela donzela?” perguntou-lhe Ivan.

“Há já muito tempo que não vejo o céu azul e o sol dourado, não ouço o canto dos pássaros, nem ando na floresta verde!”

“Então vem comigo. E se me amas, sê minha esposa! Iremos para o reino do meu pai!”

“Mas, e o feiticeiro?”

“Já não há que temer o feiticeiro. Ele já não tem poder mágico!”

Passaram despercebidos pelos guardas e saíram da montanha.

Depois de terem saído, Ivan rompeu o feitiço dos guerreiros que guardavam a entrada, e os outros feitiços lançados pelo feiticeiro também desapareceram.

Os dois subiram para o tapete mágico e voaram. Onde quer que aterrassem, Ivan contava ao povo acerca do bem, do mal, e o que é a Verdade. Ele falava-lhes sobre o Amor, a Sabedoria, e o Poder Divinos, e sobre a simplicidade das Leis Divinas da Bondade e do Amor!

* * *

Ao longo desse tempo, os reinos dos irmãos de Ivan, Kassyan e Demyan, cresceram tanto que eles uniram as suas fronteiras.

A raiva cresceu em Kassyan e a ganância cresceu em Demyan, a tal ponto que esqueceram a sabedoria do seu pai e começaram a discutir sobre o domínio da terra e das pessoas.

Quando há discussão, as pessoas desentendem-se. E quando as pessoas se desentendem, falta apenas um pequeno passo para o conflito.

E, de facto, o infortúnio aconteceu, e Kassyan entrou em guerra com o seu irmão Demyan.

Pessoas e animais morreram, os campos ficaram desertos.

A guerra trouxe dor, morte, mutilações terríveis, ruína, lágrimas e tristeza.

Mas os irmãos não prestaram atenção, medindo o poderio dos seus reinos apenas pela capacidade de esmagar e subjugar o outro.

Ivan viu este lamentável estado das coisas.

Chegou no tapete mágico, pôs em evidencia a vergonha que deviam sentir, e tentou reconciliá-los.

Mas quando Kassyan e Demyan avistaram Marya, cada um deles quis tomá-la para si. Decidiram fingir que estavam reconciliados para tirar a bela donzela ao irmão. E, assim, aos seus pecados foi acrescentado o engano, que ocultava as suas intenções dissimuladas.

Todos voltaram juntos para o pai.

Quando ouviu as histórias dos seus filhos, ele disse:

“Como tudo acabou bem! A vossa viagem pelo grande mundo não foi em vão, aprenderam muito sobre os seus caminhos. Cada um de vós terá agora um czarado. Portanto, que os meus sucessores sejam Ivan e Marya! E que todos vocês vivam em paz!”

Os preparativos para o casamento de Ivan e Marya começaram.

Mas os pensamentos maléficos dos irmãos de Ivan, motivados pela inveja e pela ganância, só ficaram mais fortes!

Kassyan decidiu matar Ivan e Demyan durante a noite, e assim tornar-se o governante de todos.

Lançou-se ao que havia decidido.

Matou Demyan, mas não conseguiu matar Ivan.

Cravou a espada no seu corpo, mas este, ileso, continuou a dormir, virando-se como se de nada se tratasse.

Kassyan ficou assustado.

Na manhã seguinte, Ivan viu o seu irmão Demyan morto e adivinhou o que tinha acontecido. Então, decidiu trazer o seu irmão de volta à vida e explicar-lhe porque isto tinha acontecido.

No mesmo dia, para vingar-se de Kassyan e por inveja de Ivan, Demyan decidiu envenenar os dois.

Era o dia do casamento. Pessoas de todo o reino compareceram ao banquete para felicitar o jovem casal e desejar-lhes felicidades.

Enquanto todos dançavam, Demyan envenenou a comida de Ivan e de Kassyan sem ser notado. Quando se sentaram novamente à mesa, Ivan comeu sem que nada lhe acontecesse. Mas Kassyan caiu imediatamente morto.

Assim, Ivan também teve de trazer o seu irmão mais velho de volta à vida.

Foi então que a verdade foi revelada a todos sobre as más intenções e acções dos irmãos mais velhos. Perante o pai, perante Marya, e perante todo o povo, a sua culpa e vergonha eram claras. E perante Deus, que Tudo Vê, eles foram envergonhados!

Os irmãos mais velhos perceberam quanto tinham mergulhado no abismo do vício e do pecado, levados pela raiva, pela ganância, pela inveja e pelo engano.

E arrependeram-se.

Então, Ivan disse-lhes:

“Haveis transformado em maldade todas as boas capacidades que tinheis desenvolvido!

Não há nada de errado com a capacidade de lutar e proteger os fracos! Não há nada de errado com a capacidade de negociar honestamente!

Mas se alguém não tiver amor no coração, pode não perceber como o desejo de ganho pessoal tende para o mal, e como os desejos pessoais tomam precedência sobre os das outras pessoas!

Alguém que ama genuinamente mostra preocupação para com os outros e defende-os, não por si mesmo, mas por eles! Através disto, o ser humano pode aprender a perder-se a si mesmo no amor altruísta, e a adquirir o Amor e a Vontade Divinas.

Agora, que cada um de vós vá para o seu reino, e ponha a sua casa em ordem!

Arranquem todos os vícios e as suas raízes em vós mesmos! Cultivem o amor do coração e fortaleçam-no!”

“Sim, assim faremos! Mas primeiro, diz-nos: como conseguiste sobreviver ao que fizemos, e como conseguiste trazer-nos de volta à vida?

“Aprendi como ser um com o Poder Divino! Desse modo, nenhum mal me causa temor!

Haveis atraído tanta desgraça para as outras pessoas! É hora de fazer correcções o mais rapidamente possível! Foi por isso que Deus permitiu que fossem trazidos de volta à vida nesses corpos, para que corrigissem os vossos erros!”

Os irmãos regressaram às suas casas e começaram a aprender a viver com amor e bondade.

Quando o aprenderam, encontraram as noivas que lhes estavam destinadas, e casaram-se com as suas eleitas.

E assim começaram todos a viver em paz e prosperidade.

Ivan e Marya continuaram a ensinar todas as pessoas a estar num estado de paz, bondade, e amor na Terra.

Encontraram um jovem bom a quem ofereceram o chapéu da invisibilidade, a toalha de mesa mágica e o tapete voador, e depois ensinaram-lhe todo o Conhecimento Divino.

Afinal, é importante que a verdadeira magia nunca desapareça da Terra.

* * *

Vassilisa ficou tão envolvida na história que se esqueceu da masmorra em que ela e Bayan estavam trancados.

“Que história maravilhosa! Se ao menos tivéssemos um tapete voador e um chapéu de invisibilidade, sairíamos daqui!”

“Mas como caberíamos os dois no mesmo chapéu?”

“Nós nos revezaríamos! Pensaríamos numa forma de darmos o chapéu a outra pessoa!”

“Tudo bem, então é isso que vamos fazer!”

“O quê? Quer dizer que tem um chapéu assim?”

“Não, filha minha, mas agora vou tentar libertar-te daqui para que outras pessoas não percebam isso.”

“O que quer dizer? Eu não vou a lado nenhum sem ti!”

“Mas tem de ser, minha filha! E quando estiveres livre, deves ir-te embora daqui! E não te preocupes comigo, eu sairei daqui depois e encontrar-te-ei. Entretanto, vai viver entre pessoas boas e gentis !”

Quando o guarda veio com pão e água para os prisioneiros, Bayan disse-lhe para permitir que Vassilisa fosse libertada:

“Traga um saco, vamos esconder a menina aí. Vai parecer que esteve a tirar a velha cama de feno da masmorra. Leve-a para fora desse modo e quando os portões se fecharem, liberta-a! Afinal ela não tem culpa de nada! Ouso dizer que tens uma filha ou um filho! Como se sentiria se alguém os tentasse matar de fome numa masmorra?”

“Mas, e a ordem do Príncipe Mstislav?”

“O Príncipe não deu nenhuma ordem sobre a garota, apenas sobre mim!”

“E se perguntarem para onde é que ela foi? O que digo?

“Responda que não sabe, mas que lhe contaram que o menestrel fez um truque de magia.”

“Bom!”

Afinal, o guarda não se revelara um homem mau. E trouxe o saco.

“Entra, menina. Não faças barulho e não faças nada que permita que te vejam.”

O guarda levou a Vassilisa para fora dos portões, caminhou até um pouco mais longe e deixou-a sair do saco.

* * *

Deste modo, Vassiliva estava, agora, livre. Mas Bayan ainda se encontrava na masmorra do príncipe.

“O que posso eu fazer, agora? — pensou ela. Como posso salvar Bayan?”

Vassilisa foi até ao rio, lavou as roupas, lavou-se e banhou-se. Apanhou ervas medicinais e outras plantas comestíveis no prado. Depois foi até à floresta e colheu cogumelos e morangos silvestres. E partiu em busca de pessoas boas.

Mas, não tinha intenção de ir muito longe.

Nos limites da aldeia, reparou numa casinha precária. Viu que morava ali uma mulher idosa e enferma.

Vassilisa curvou-se em reverência e perguntou-lhe:

“Posso entrar e ficar um pouco com a senhora?”

“Achas que terias algum tipo de vida aqui, minha filha? Aqui não há nada além de tristeza! Só estou aqui para sobreviver sozinha! Não consigo ver muito bem agora, não posso fazer muita coisa com as minhas mãos, e mal consigo andar. Não tenho comida para te oferecer!”

“Então eu poderei dar uma ajuda em casa, senhora! E poderá ajudar-me com os seus conselhos!

“‘Onde não há nada além de tristeza, é um infortúnio. Mas onde há infortúnio para um e infortúnio para outro, se ambos trabalharem juntos, não haverá mais infortúnio!’ Isso é o que o meu pai Bayan costumava dizer-me. Talvez consigamos superar todos os nossos infortúnios juntas!”

“Tudo bem, então, vem morar comigo. Serás minha neta! Não tenho netos. Os meus filhos serviram ao nosso príncipe Mstislav e deram-lhe as suas vidas, morreram por nada.

“Fica aquí comigo o tempo que quiseres!”

“Obrigado, senhora!”

Vassilisa arrumou o interior da cabana e rapidamente tinha tudo limpo e impecável. Apanhou lenha e acendeu o fogão. Fez uma sopa de cogumelos e ervas e uma compota de morangos silvestres.

Sentaram-se à mesa para a refeição. A anciã elogiou Vassilisa por deixar tudo limpo e preparar a comida. Então, perguntou:

“E que tipo de infelicidade tens, minha filha?”

“O teu príncipe fechou o meu pai, Bayan, na masmorra. Tenho de ver uma forma de o salvar.”

“Sim, de facto, isso é um infortúnio.

“No passado, todas as pessoas defenderiam o menestrel-contador de histórias. Mas, agora, as pessoas não se unem pelo bem de uma causa. Um homem não faz um exército, e assim estão as coisas!

“Se todas as pessoas se unirem pelo bem, então haverá paz! Mas quando isso não acontece, também não existe paz.

“Mas, espera! Acabo de ter uma ideia. Eu sei que o príncipe tem uma mulher, a Princesa Efrosinya, e ela tem bom coração.

“Aqueles que são pobres nem sempre são amáveis, e aqueles que vivem luxuosamente nem sempre são cruéis e arrogantes.

“Se pudesses fazer-lhe um pedido talvez ela pudesse ajudar-te.

“Porém, ultimamente, ela tem-se sentido mal e doente. Fica sentada lá em cima nos seus aposentos e não sai a lado nenhum. E, os seus guardas não te deixariam vê-la.”

Vassilisa fez algumas infusões de ervas curativas. Deu-as à anciã para que recuperasse as forças, para que os seus braços e pernas não doessem, e para que pudesse ver melhor.

Também fez mais algumas infusões para tratar a princesa.

* * *

Agora, Vassilisa tinha que pensar numa forma de chegar ao pé da princesa Efrosinya, nos seus aposentos superiores.

No dia seguinte, decidiu ver como poderia encontrar maneira de entrar no palácio do príncipe, evitando os guardas e chegando à princesa.

A mansão e os alojamentos dos príncipes eram muito grandes, e o seu pátio era cercado por todos os lados por um alto muro de pedra, como uma fortaleza impenetrável! Havia apenas uma entrada num lado.

“Muito bem, residência do príncipe vira-te e mostra-me o teu outro lado, que está escondido pela floresta! Verei como posso encontrar uma maneira de evitar as sentinelas e chegar até à princesa nos seus aposentos, no andar de cima!”, disse Vassilisa em tom de brincadeira, para se incentivar. Dirigiu-se ao longo do muro na direção mais distante do portão e mais próxima da floresta.

Mas todas as árvores, a uma grande distância, ao longo do muro tinham sido cortadas, para tornar possível localizar quaisquer inimigos. Era impossível para Vassilisa subir pela parede, ou mesmo ver por detrás dela.

No entanto, quando Vassilisa reparou num pequeno abeto exactamente frente aos aposentos da princesa, junto à parede. A Princesa Efrosinya tinha persuadido que não destruíssem esta árvore, porque ao amanhecer e ao entardecer, pousava ali um tordo que cantava lindamente, e a princesa adorava escutá-lo.

Vassilisa subiu à árvore e de lá pôde ver o pátio, os quartos da princesa no andar de cima, e os aposentos do príncipe.

No pátio, estava o jovem príncipe — filho do príncipe e da princesa — a brincar e a divertir-se, travando uma luta de espadas de madeira com os criados. Mas os servos tinham medo de magoá-lo e rapidamente o deixaram ganhar. O pequeno príncipe depressa se aborreceu com isso e expulsou os criados.

Então, pegou no seu arco e flecha e começou a procurar algo para acertar. No abeto, avistou um chapim-azul e apontou.

Vassilisa assustou imediatamente o pássaro, para que o jovem príncipe não o atingisse.

A flecha atingiu a árvore e o jovem príncipe viu Vassilisa.

“O que está a fazer aqui, criada?”

“Eu não sou uma criada! Sou como um pássaro, que voa livre! Queria atirar a sua flecha ao chapim-azul, mas quase acertou nesta bela jovem donzela!”

Ela apanhou a flecha do jovem príncipe, desceu por um longo galho e pulou para o pátio.

“Dê-me a minha flecha!” disse o jovem príncipe.

“Aqui, tome, mas não atire mais aos pássaros!”

“Eu sou Vsevolod, filho do príncipe. Quando crescer, tornar-me-ei príncipe e amo de todos. Aí, atirarei a minha flecha a quem eu quiser!”

“E eu sou Vassilisa! Quando crescer, tornar-me-ei Vassilisa, a Sábia!

“Mas, já sei que quando alguém atira uma seta a um pássaro, destrói a sua própria felicidade.”

“Então, para onde devo disparar a minha flecha?”

“Já sei, vou desenhar um alvo para si!”

Com um pedaço de carvão, Vassilisa desenhou um alvo com sete anéis, num poste de madeira.

“Vamos jogar um jogo: aquele que disparar com mais precisão será o vencedor, e o outro deverá cumprir um desejo do vencedor! — disse Vassilisa.”

“Está bem! Se eu ganhar serás minha serva e brincarás comigo exatamente como eu ordenar!”

“E, se eu ganhar, levar-me-á a ver a sua mãe, tenho algo importante para discutir com ela!”

“Muito bem, de acordo!”

Assim, começaram as disparar as suas flechas. Vassilisa acertou mesmo no centro do alvo, mas a flecha do jovem príncipe ficou perto da borda.

“Isso não foi justo,” disse ele. “Uma rajada de vento apanhou a minha flecha e atirou-a para fora de rota. Tenho uma ideia melhor: vamos fazer uma luta de espadas de madeira!”

“Então, está bem! E desta vez não poderás culpar o vento!”

Começaram a sua luta de espadas. O jovem príncipe tentava ao máximo, mas Vassilisa não cedia.

Então, Vassilisa aproveitou o momento e, num movimento que Bayan lhe ensinara, tirou a espada da mão do jovem príncipe, antes mesmo que ele soubesse o que o atingira!

“Agora, cumpra a sua palavra de príncipe: leve-me até à sua mãe, a princesa! Mais tarde, vou ensinar-lhe a usar a bochecha para saber até que ponto o vento desviará uma flecha do curso. E vou ensinar uma maneira secreta de desarmar um adversário.”

O jovem príncipe acompanhou Vassilisa aos aposentos superiores da sua mãe.

Vassilisa contou à princesa Efrosinya sobre Bayan. Contou-lhe como — por causa das palavras verdadeiras de Bayan — o príncipe se enraivecera e ordenara que ele ficasse trancado na masmorra. Também falou da ameaça à vida do jovem príncipe pela guerra que seu pai, o príncipe, estava a planear.

A princesa entristeceu-se:

“Não sei como fazer para que o príncipe ouça o meu conselho, agora. Devemos pensar em como libertar Bayan e como evitar o destino previsto para o jovem príncipe.”

“Poderá dizer ao príncipe, que está ansiosa para ouvir histórias de magia, e que eles deveriam trazer meu pai Bayan até si! Ele tocará o seu saltério, contará histórias felizes, e depois deixar-nos-á partir, e nós iremos embora daqui!”

“O Príncipe está zangado agora, não concordará em atender ao meu pedido. Devemos esperar por uma ocasião adequada. Agora mesmo ele está de mau humor, pior que nuvens de tempestade, não falará com ninguém!

“Fique aqui por enquanto, senhorita, fique comigo. Brinque com o jovem príncipe, conte-nos as histórias de Bayan!”

Então, Vassilisa ficou nos aposentos da princesa Efrosinya, e preparou-lhe infusões de ervas: uma para restaurar a sua saúde, outra para limpar a sua pele, para se livrar das rugas, e evitar que a sua beleza desbotasse, e uma terceira para fortalecer os seus cabelos.

Vassilisa também começou a contar-lhes histórias e contos de magia. Embora não conseguisse contá-los tão maravilhosamente quanto Bayan, falou palavras sábias sobre a bondade e o amor.

Durante o dia brincava com o jovem Príncipe Vsevolod. Ela ensinara-lhe a sentir o vento na bochecha para que a sua flecha atingisse o alvo com precisão, e a desarmar um adversário.

Mas, Vassilisa ficou entediada por passar o seu tempo a jogar lutas de espadas!

“Há uma velha senhora que preciso ver,” disse ela ao jovem príncipe. “Ela deve estar preocupada se algo de mal me aconteceu. Quer vir comigo?”

“Sim!”

“Leva-lhe umas pequenas guloseimas para a alegrar!”

“Está bem!”

Eles subiram a escada da parede, depois seguiram ao longo de um galho do abeto, desceram da árvore e foram ver a velha senhora.

Ela ficou muito feliz por ver os visitantes e perguntou a Vassilisa sobre tudo o que acontecera.

O jovem príncipe viu a cabana degradada da velha mulher e a pobreza em que ela vivia, sozinha. Ele nunca antes tinha visto algo parecido.

Os visitantes deram à mulher os seus pequenos mimos e retornaram à residência do príncipe pelo mesmo caminho.

O jovem príncipe Vsevolod queria tanto fazer boas ações que no dia seguinte visitaram outra casa pobre, onde ajudaram o máximo que puderam, e deixaram pequenas guloseimas.

* * *

Entretanto, o Príncipe Mstilslav era uma alma atormentada. Não conseguia tirar as previsões de Bayan, da cabeça! Não sabia o que fazer a seguir! Mesmo que ordenasse a morte do trovador Bayan, isso não mudaria nada do que ele havia previsto!

O príncipe já não aguentava mais, e foi falar com Bayan.

Bayan ficou muito contente.

“É bom que tenha vindo ver-me, Príncipe Mstislav! O que está a planear fazer não é bom! Não comece uma guerra contra o seu primo, não tente apoderar-se do seu principado, não tente convertê-lo às suas crenças! Viva em paz!”

“Mas como é que você conhece todos os meus pensamentos? Ainda não contei a ninguém com quem pretendia entrar em guerra!

“Que deuses é que você adora? Com que poder sabe tudo sobre outras pessoas? Que bruxaria é essa que você domina?

“Como é que provará a veracidade das suas previsões?

“Como é que demonstrará que se eu não entrar em guerra contra o meu primo, o meu filho não morrerá?”

“Eu não vou provar-lhe nada, Príncipe Mstislav! Se quiser, acredite em mim, se não quiser, não acredite em mim! Eu realmente conheço os seus maus pensamentos e desejo poupar-lhe o infortúnio tanto para si quanto para outras pessoas!

“Pregunta-me de que deus sou devoto? Mas há apenas um único Deus!

“Há muito tempo, os Seus Grandes Mensageiros vieram aqui à Terra em várias ocasiões, entre os diversos povos, e com o passar do tempo ocorreram mudanças nas religiões e nos nomes do Poder Divino.

“Eu conheço o Deus Vivo que, além de toda fé, é o Alfa e o Ómega! Ele é o Criador do Universo e o Pai e Mãe amorosos para todos os Seus filhos!

“Toda a fé seria boa se as pessoas não substituíssem Deus por ídolos, e o cumprimento dos Mandamentos Divinos do Amor por rituais!

“E não haveria disputas entre as pessoas por causa das suas crenças, se todas entendessem que não existe outro Poder Divino Único, não importando o nome que Lhe dessem!

“Irmão não entraria em guerra com irmão, nem vizinho contra vizinho, se as pessoas entendessem o que Deus realmente deseja delas!

“A crença na existência de Deus deveria unir todas as pessoas e eliminar todos os conflitos!

“Se as pessoas estivessem conscientes destes valores espirituais eternos, certamente perceberiam a insignificância das suas rivalidades aqui na Terra, e das suas reivindicações vazias contra os outros.

“Diante da Grandeza do Amor e do Poder de Deus, todos certamente se sentiriam Seus filhos, e irmãos e irmãs uns dos outros!

“Mas até agora, este não é o caso! As pessoas fazem guerra pela terra, pelo domínio, e pelas riquezas do mundo! Até discutem sobre as suas crenças, e lutam pela fé!”

“Se as pessoas pudessem compreender que Deus conhece todos os seus pensamentos, que as suas preocupações — mesmo as "secretas" — são-Lhe evidentes, e que serão responsabilizadas por tudo, então haveria mais paz e ordem na Terra! O mal sempre exige o seu castigo. O bem vem para aqueles que praticam boas ações!”

“A meu ver, trovador, na vida real as coisas nem sempre acontecem como diz!” — objectou o príncipe Mstislav. “Aqueles que fazem o mal nem sempre recebem castigo! E aqueles que fazem o bem nem sempre estão destinados a serem recompensados!

“Veja, você pensa que sou um malfeitor! Mas quem tem liberdade aqui sou eu! Vivo no luxo! E você está preso aqui na minha masmorra! Só preciso dar uma ordem e será condenado à morte! Eu só tenho de dar uma ordem e será torturado! Não é assim?”

“Sim, mas foi o senhor, príncipe, que veio ver-me à masmorra para pedir conselhos!

“O meu conselho para si é este: não comece a guerra que pretende!”

O príncipe ficou com raiva, novamente, e foi-se embora.

Esta foi só uma das várias discussões que o príncipe teve com Bayan. Ele revirou muitas coisas na sua mente. Porém, não conseguia decidir o que fazer a seguir.

* * *

A princesa Efrosinya notou a mudança no estado de espírito do marido. Ela decidiu tentar convencê-lo a libertar Bayan.

Ela foi vê-lo e iniciou uma discussão.

“És sábia, minha esposa!" — respondeu-lhe Mstislav. “Eu também acho que se houver uma maneira de poupar o infortúnio do nosso filho, a coisa certa será concordar com Bayan, e libertá-lo.

“Porém, temo que ele me guarde rancor por mantê-lo na masmorra. Ele pensará nalguma vingança astuta, ou invocará alguma feitiçaria!”

“Ele não o fará, Mstislav! Tudo o que ele quer de ti é que não inicies uma guerra! Liberta-o, e deseja-lhe boa sorte! E faz como te aconselhou!”

Mstislav concordou. Não lhe pediu desculpa, nem lhe dirigiu alguma palavra bondosa, mas ordenou que fosse libertado da masmorra.

* * *

Quando Bayan ficou libre, começou a pensar em encontrar Vassilisa.

Mas, ela já havia descoberto, através da princesa Efrosinya, que Bayan tinha sido libertado. Agradeceu-lhe pela ajuda, despediu-se do jovem príncipe, e alcançou, ela mesma, Bayan!

Ficaram tão felizes!

“Vê, em que “maga” te tornaste, agora!” Bayan disse a Vassilisa. “Conseguiste libertar-me!”

“Mas, o príncipe Mstislav tê-lo-ia libertado mesmo sem a minha ajuda! — disse ao ouvir as suas palavras.”

“Eu não teria tanta certeza disso! Mesmo quando algumas pessoas unem os seus esforços em busca de uma causa justa, o seu poder aumenta muitas vezes!”

“Assim, vê, Vassilisa, acontece que as músicas que cantámos aqui, e as histórias que contámos, não foram em vão! Agora, há esperança de que tenhamos conseguido evitar uma guerra cruel, e reacender alguma bondade nas pessoas.

“Agora viste, por ti mesma, como a verdadeira magia se revela e se enraíza no amor do coração! E como essa magia se manifesta na vida através de pessoas boas!

“Aqueles que não pensam em si mesmos, quando praticam boas ações, trazem paz e alegria aos outros, através da Vontade de Deus criam a verdadeira magia!”

Os dois prosseguiram o seu caminho nesta Terra. Por todos os lugares semearam as sementes do amor nas pessoas, contaram histórias de boas ações, e espalharam bondade em tudo o que fizeram.

* * *

E é aqui que a nossa história termina.

Se alguém, lendo-a ou ouvindo-a, se tornou uma pessoa melhor, e mais inteligente, então, que bom para ela!

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