Amáveis Contos de Fadas/Conto do Menino que podia fazer Magia Conto do Menino que podia fazer MagiaNarrado por Sarkar “Ainda não sou um mago, ainda estou a aprender, mas o amor permite-nos realizar verdadeiros milagres.” Evgeny Schwartz, do guião do filme "Zolushka" “Só podemos gerar verdadeiros milagres Sarkar Na época deste conto, as mulheres usavam vestidos longos e os homens fraques. As pessoas costumavam andar a cavalo, porque os primeiros automóveis estavam ainda a ser inventados e não existia essa coisa chamada avião. Além disso, como sempre, existiam ricos e pobres, pessoas mais e menos espertas, pessoas gentis e as que se tinham esquecido da amabilidade. E foi assim que dois pais muito comuns tiveram um menino extraordinário. Este menino foi dotado com a capacidade de fazer milagres. Mas demorou um certo tempo para que isso fosse descoberto. O seu pai era um brilhante médico de crianças, a sua mãe tocava piano lindamente e dava aulas de música. Por muito tempo, sonharam ter os seus próprios filhos, até que finalmente aconteceu. Quando a mãe do futuro pequeno milagreiro descobriu que ia ter um filho, sentiu-se a mulher mais sortuda do mundo! O misterioso meio sorriso de contentamento que constantemente brincava no seu rosto tornava-a, agora, ainda mais bonita, irradiando um brilho suave e quase imperceptível de felicidade! Finalmente chegou o dia em que o pequeno milagreiro veio ao mundo, e foi nesse mesmo dia, acreditava a sua mãe, que ele realizou o seu primeiro milagre. A mãe dele, sabes, não tinha leite materno, então é claro que ela pediu imediatamente ao marido que fosse procurar uma ama de leite, ou pelo menos comprar um pouco. O tempo todo segurou o bebé contra o seu peito para que ele não chorasse. Mas, então, o pequeno começou a chupar, e o toque suave dos seus lábios foi suficiente para fazer o leite fluir! Agora, alguns podem dizer que isso não é milagre algum; afinal, não é a primeira vez que acontece tal coisa. Até o seu pai, que correu para casa com uma pequena mamadeira de leite materno para o seu filho recém-nascido e uma lista de mulheres que poderiam amamentar o pequeno, gracejou gentilmente sobre isso com a sua esposa. “Ora, não te disse que de início isso acontece muitas vezes, mas preocupaste-te tanto, minha querida!” Ainda assim, a mãe do pequeno estava convencida de que se tinha tratado de um autêntico milagre! Ela, é claro, ainda não sabia que, ao crescer, o seu filho se tornaria num verdadeiro milagreiro. Os pais decidiram chamar Daniel ao menino, mas normalmente todos lhe chamavam Dan. Os milagres pareciam acontecer-lhe por si mesmos. Se ele queria fazer qualquer coisa bondosa, era isso mesmo que acontecia. Primeiro, eram apenas pequenas coisas que nem mesmo Dan sabia como as conseguia, mas que gostava muito de realizar! Um dia, por exemplo, a sua mãe partiu a sua chávena preferida e ficou aborrecida. O pequeno mago não queria que ela ficasse assim, então, agarrou nos três pedaços partidos da chávena, e eles juntaram-se novamente tão bem que não se podia ver sinal algum de que tivesse partido! Os pais indagaram-se muito tempo acerca destes milagres insignificantes, que aconteciam de vez em quando através do seu pequeno filho. Toda a espécie de outros pequenos milagres também aconteciam. Por exemplo, os seus amigos encontravam doces ou lápis de cor nas suas sacolas, como que por magia, e uma borboleta desenhada num pedaço de papel tornava-se real e voava dali… Geralmente, os meninos que eram amigos de Dan aceitavam esses milagres como algo completamente normal, enquanto os adultos achavam que eram truques de magia que este fazia para impressionar os seus amigos. Como todos estes milagres consistiam em atos de bondade nenhum adulto ficava aborrecido com ele. Todos ficavam contentes sempre que estavam com Dan! Tal como um raio de sol, iluminava tudo à volta com o seu amor! Todos ao seu redor — crianças, adultos e até pequenos animais — sentiam-se sempre muito felizes no seu amor. Até as flores pareciam mais bonitas! Os pássaros começavam a cantar as suas canções de Primavera mesmo no Outono, e mostravam a sua confiança pousando na sua palma quando Dan estendia pedacinhos de pão! Gatos e cães vinham e enrolavam-se nas suas pernas, e a sua felicidade não conhecia limites sempre que Dan os acariciava! Quanto a Dan, nunca ficava triste e nunca chorava. E se alguém estivesse desanimado, ele sabia sempre como animá-lo. Se os seus amigos discutissem, ele fazia questão de restaurar a harmonia entre eles. A princípio, Dan não achava que fosse diferente dos seus amigos. Bem, talvez um pouco diferente! Por exemplo, ficava muito surpreendido quando percebia que nem todos conseguiam entender facilmente o que outra pessoa estava a pensar. Foi então, que o pequeno mago percebeu que havia um Grande Operador de Milagres que as pessoas às vezes chamavam de Deus. E o pequeno milagreiro queria realmente tornar-se, pelo menos um pouco, como Ele. Com o passar do tempo, Dan aprendeu a sentir a Sua Presença sempre ao seu redor. Se Dan olhava para o céu, via o Sorriso do Grande Operador de Milagres. Ou, para ser mais preciso, ele não O via, mas sentia como se O próprio estivesse a sorrir-lhe através dos céus! A luz do sol, tal como Dan a sentia, estava sempre cheia do Seu Calor, Suavidade e Alegria. E as estrelas da noite pareciam ser faíscas nos Seus enormes Olhos, nos quais podiam ser vistas histórias sobre maravilhosos mundos distantes. O olhar do Grande Operador de Milagres era sempre tão amoroso! Outra coisa que Dan podia sentir eram as Suas Mãos Mágicas. Elas abraçavam-no, apoiavam-no e alcançavam todo o ser de Dan, enchendo-o com um estado de bem-aventurança! Essas Mãos também podiam indicar o caminho a seguir e o que deveria ser feito. E agora, assim que Dan pensava no Grande Operador de Milagres, a Sua Presença e Amor faziam-se sentir! Dan achava fácil seguir os Conselhos e Instruções do Grande Operador de Milagres. Foi graças a isso que começou a entender que não é apenas para maravilhar-se e divertir-se que os verdadeiros milagres são convocados; devem também ajudar as pessoas a reconhecer coisas muito importantes na vida, a superar o mal dentro de si e a aprender a fazer o bem. E foi assim que Dan começou a tentar ajudar as pessoas ao seu redor. * * * Havia um menino que ia à mesma escola que Dan, mas que estava apenas no primeiro ciclo da escola. Ele era obrigado, pelos seus pais, a ficar em casa como castigo até que conseguisse reconhecer todas as letras do alfabeto. Estas eram escritas em pequenos cartões à sua frente. Mas o menino não suportava nem olhar para elas! Ali, lá fora, o sol brilhava e os seus amigos brincavam! Mas ele era o único em toda a classe que não sabia as letras do alfabeto. Por isso tirou notas baixas. Muitos dos outros meninos e meninas não só sabiam o alfabeto, como já sabiam ler livros! Dan perguntou aos pais se deixariam que ajudasse o menino, e eles disseram que sim. “És o melhor aluno da escola. É tão bom quereres ajudá-lo! Talvez consigas! Ele está na escola há um ano inteiro e ainda não domina o alfabeto!” Dan foi até ao quarto do menino, onde foi recebido com surpresa e alegria. “Como é que te deixaram ver-me?” “Foi fácil,” respondeu Dan. “Disse-lhes que iria ajudar-te a aprender as letras do alfabeto!” “Só um operador de milagres conseguiria isso” — exclamou o rapaz. “Como gostaria que um milagre desses acontecesse. Assim poderia aprender logo estas tontas letras e depois ir brincar!” “Vou ajudar-te,” disse o Dan. “É muito fácil aprender a ler. As letras, por si mesmas, são mágicas e podem criar milagres.” Dan distribuiu os pequenos cartões em forma de leque. “Escolhe três cartas e coloca-as à tua frente.” “O menino fez como Dan sugeriu, e então, por magia, as letras escolhidas juntaram-se formando a palavra “gato”, e a figura brilhante de um gato surgiu no ar! Parecia estar vivo! Gentilmente ondulou a sua cauda, estirou-se longamente e depois miou! Os dois rapazes fizeram novamente o mesmo e criaram a palavra “cão”, e um pequeno cachorro saltou e ladrou alegremente! De repente, a esgotante tarefa de aprender letras tornara-se num divertido jogo! Dan explicou ao amigo como diferentes combinações de letras podiam formar uma ou mesmo várias palavras, e de cada vez que tentavam surgia uma imagem mágica a mover-se. Nesse mesmo dia o pequeno rapaz aprendeu a reconhecer todas as letras! Ao ver como eram mágicas depressa teve vontade de aprender a ler! Desde então, sempre que lia uma história via-las sempre. Mais ninguém as conseguia ver. O menino cresceu e tornou-se num artista. Ilustrava livros de histórias e até livros do alfabeto, para que todas as crianças pudessem aprender a amar a leitura. * * * Certo dia, Dan apanhou três irmãos com fisgas, a disparar pedras para um jovem corvo. Já tinham ferido uma asa do jovem pássaro. Agora, não conseguia voar, e apenas podia tentar fugir saltando, cuidando da sua asa dorida. Dan correu para o socorrer, colocando-se entre os irmãos e o pequeno pássaro. Os rapazes baixaram as suas fisgas. “Porque estás a interromper o nosso jogo de caça?!” — perguntou o irmão mais velho. “Vocês magoaram a asa do pequeno pássaro,” apontou Dan. Ele está com dores, não conseguem ver? Quando o vosso pai usa o cinto convosco, também vos dói, não é? E nessa altura gritam ‘pára!’. “Agora é o pequeno pássaro que também sofre, mas sem qualquer motivo. Afinal, o pássaro não vos fez nada de mal.” “Como sabes que o nosso pai nos bate com o cinto? Quem te contou histórias?” — o irmão mais velho levantou o seu punho, pronto para dar um murro. “Tu mesmo acabas de o recordar, e o Sam também!” — disse Dan apontando para o mais novo dos três. “Como sabes o que uma pessoa está a pensar?” — perguntaram, surpresos, os rapazes, já esquecidos da sua zanga. “Bom, eu apenas sei!” “Ok, prova-o!” “Muito bem, pensem em que gostariam que as vossas fisgas se transformassem, e eu adivinho a resposta!” Repentinamente, em vez de uma fisga, cada um empunhava um pirulito, tal como na ideia que lhes surgira na mente. Os rapazes estavam tão admirados que não sabiam o que dizer. Dan sorriu-lhes. “É fácil,” disse. “Se fazem algo bom, isso faz-vos felizes.” “Mas se pensam sobre algo mau ou se fazem algo mau, então permitem que a dor e a tristeza entrem nas vossas vidas. “Por isso, por favor, não brinquem mais com as fisgas!” Com estas palavras, Dan pegou no pássaro ferido e foi para casa; a pequena ave aninhou-se nele, com confiança. Dan tentou tratar a asa do jovem pássaro colocando a sua mão por cima, tal como tinha feito desaparecer as dores de cabeça da sua mãe, ou dos seus colegas de escola. A dor foi-se, mas a asa ainda estava magoada. “Parece-me que ainda há muito que desconheço sobre a cura”, disse Dan. “Vou levar-te ao meu pai, que é médico. Não tenhas medo! “A propósito, como devemos chamar-te?” “Kraa-ra!” — crocitou o corvo. “Muito bem, Klara!”, devolveu Dan, sorrindo. * * * O pai de Dan estava sempre atarefado com trabalho e tinha pouco tempo livre. Quando não andava nas visitas a crianças doentes, lia livros sobre várias doenças e como tratá-las. Ou então, ele mesmo escrevia artigos sobre o que descobria acerca da prevenção e tratamento de doenças infantis. Dan tentava nunca o incomodar com assuntos triviais. Mas também sabia que o seu pai estava pronto a ajudar e a dar apoio sempre que necessário. Bateu à porta do seu estúdio. “Entra, Dan!” “Pai, esta é a Klara! Ela precisa da tua ajuda!” Quando o pai terminou de enfaixar a asa de Klara, Dan perguntou-lhe: “Achas que a Klara pode ficar connosco por uns tempos, até melhorar?” “Claro, não me importo, mas vamos perguntar se a tua mãe concorda.” “Pai, há mais uma coisa que quero perguntar-te,” respondeu Dan. “Conheces o Sam, o Pete e o Phil? Bem, o pai deles bate-lhes com um cinto, e com muita força. Isso pode torná-los temerosos e cruéis com os fracos. Achas que podes dar-lhe uma palavrinha?” “Ah, agora entendo!” exclamou o pai de Dan. “Sempre que tratava destes rapazes não conseguia perceber como se batiam tanto e tão gravemente entre eles.” “De acordo, vou tentar fazer com que o pai deles entenda quais podem ser as consequências por bater-lhes com o cinto.” “Obrigado, pai!” exclamou Dan. “Agora vou mostrar a Klara à mamã!” * * * A mãe também permitiu que Dan mantivesse Klara em casa. Quanto a Klara, quando começou a melhorar, não queria ir-se embora do novo lar. E assim se tornou num novo membro desta família. De facto, não tardou muito para saber dizer algumas palavras do idioma humano. Ela foi de grande ajuda para Dan, nas pequenas mostras que fazia para crianças e adultos, agora com bastante frequência. Deliciava-se em apanhar pequenos papéis com pedidos de um chapéu, em ir buscar diferentes objectos para Dan, mostrar a sua capacidade de dizer palavras em linguagem humana no momento certo, e em muitas outras coisas além disto. Convertera-se, rapidamente, na favorita de todos! Um dia típico a vida de Klara começava por tomar o pequeno-almoço em conjunto com a família. Mais tarde, quando Dan estava na escola, Klara tinha muito tempo livre para voar pela cidade e sair com os outros pássaros. Ninguém a impedia de fazer o que quisesse, mas o que ela mais gostava era de passar tempo com Dan, porque aprendia imenso com ele! Era inteligente e talentosa e gostava muito de aprender! Às vezes, depois de saborear o pequeno-almoço que lhe era dado, Klara pedia um pouco mais. Os corvos, sabes, têm o hábito de acumular suprimentos de comida, e Klara ainda tinha esse forte hábito. Às vezes, Klara também voava com a comida extra que recebia e, ao que parece, dividia-a com outra pessoa. Numa ocasião, Klara perguntou à mãe de Dan se poderia comer uma fatia grande de pão com queijo. “Por que queres tanto?” a mãe dele perguntou com uma voz gentil. “Isso pode fazer-te engordar, e então vai-te ser difícil voar!” brincou, estendendo o pão e o queijo. “Preciso disso!” Klara assegurou-lhe, na linguagem dos humanos. Depois, prendendo o pão e o queijo mais confortavelmente no seu bico, voou pela janela. Dez minutos mais tarde, Klara regressou e pediu por mais. Desta vez, também Dan ficou surpreendido. Decidiu que teria tempo suficiente, antes da escola, para descobrir porque esta comida extra era importante para Klara. Apanhou a bolsa com o almoço que a sua mãe havia preparado com tanto cuidado e pô-la na pasta da escola, dizendo que daria um pequeno passeio antes das aulas. Klara já o esperava, pousada num ramo por cima do pórtico da casa. * * * Klara voou à sua frente, mostrando-lhe a direção que devia seguir. Logo se encontraram num armazém abandonado onde o telhado desabara em vários sítios. Dan entrou e aí encontrou um rapaz da sua mesma idade. No começo, o rapaz estava receoso, mas ao ver a Klara perguntou-lhe: “Este corvo domesticado pertence-te?” “Sim” — disse Dan. “Chama-se Klara, e eu chamo-me Daniel, mas normalmente todos me tratam por Dan.” “Eu chamo-me Tom. Sabes de uma coisa? A Klara hoje trouxe-me duas fatias de pão com queixo! Quis partilhá-las com ela, mas recusou-se. Foi quando percebi que é domesticada. Como é que a treinaste?” “Bom, ela é muito esperta, ensina-se tudo a si mesma e adora fazer o que lhe peço!” “Sim, claroo, claroo!” — crocitou, Klara. “Klara, claroo!” “Xii.., ela até sabe falar!” Daniel entregou a sua bolsa de almoço a Tom e prometeu-lhe passar de novo mais tarde nesse dia, depois das aulas. Quando voltaram a encontrar-se, Tom contou a Dan tudo sobre si. Tom vivia num orfanato, pois não tinha mãe, nem pai. Porém, fugira de lá umas semanas antes, e não queria mais voltar. O novo encarregado mostrou ser muito irritadiço e a vida no orfanato tornara-se terrível. “No princípio — explicava Tom — gostei da minha nova liberdade. Instalei-me na cave do armazém abandonado e montei o meu próprio lugar para morar!” Orgulhoso, mostrou a sua mesa, o guarda-roupa, e a cama que fizera com caixas de madeira. No entanto, ele não gostava de roubar ou de pedir porque era provável que alguém o descobrisse e o enviasse de volta ao orfanato. E isso era o que Tom mais temia! A partir desse dia, Dan começou a passar todos os dias no sítio de Tom, depois das aulas. Os dois meninos rapidamente se tornaram amigos, e Dan convidou Tom a morar em sua casa. “Creio que os meus pais irão concordar,” disse-lhe ele. “Mas, pergunta-lhes primeiro,” retorquiu Tom. “Não quero ser um intruso!” E assim Dan prometeu falar com os seus pais. o entanto, quando chegou o momento, as coisas tomaram um caminho diferente. * * * A Primavera estava no seu início e o gelo ainda flutuava na água fria e escura debaixo da ponte. Na ponte, estava uma mulher, sozinha. Imediatamente Dan percebeu o que a mulher pensava. Ela sentia-se triste e inútil, e queria por termo à sua vida lançando-se ao rio. Dan correu para ela e segurou-lhe a mão gentilmente. A mulher estremeceu porque já estava a despedir-se de tudo aqui em baixo, na Terra. “Este deve ser um Anjo do Senhor, intervindo!” — pensou ela. Os olhos do menino desconhecido resplandeciam, brilhantes, como se uma luz saísse deles. “Que queres, pequeno?” “Tenho algo muito importante para lhe dizer. De facto, preciso da sua ajuda!” “Precisas da minha ajuda?” “Sim. Bem, não exatamente eu, mas o meu amigo! Por favor, venha comigo senhora, vou-lhe contando pelo caminho!” Dan segurou a mão da mulher. O seu toque foi sentido como muito quente na sua mão e parecia ir diretamente para o seu coração. Depois dos momentos de total desespero que sentira, esta onda de felicidade quase lhe trouxe lágrimas aos olhos. Dan fazia de conta que não se apercebia das suas emoções, e apertava-lhe a mão com mais firmeza, à medida que lhe contava sobre Tom. “Bom, é assim, senhora” — disse-lhe ele. “Ele é orfão. Vivia num orfanato e fugiu de lá. Não quer ali voltar porque era muito mal tratado! Tom queria fugir, para sempre, desse mundo miserável onde se sentia sozinho, infeliz, inútil e sem amor. Ele disse-me que quer fugir para longe, mas não sabe bem para onde.” “Por acaso” — disse a mulher, “eu também queria fugir para longe.” “Sim, senhora, e é exatamente por isso que o pode entender. Talvez a senhora possa arranjar forma de o amar e ele encontrar maneira de a amar a si! “A senhora poderá criar um mundo de felicidade para ele e, fazendo isso, tornar-se-á também feliz! “Se nalgum lado faz frio é aí que é preciso acender uma fogueira para acalentar as coisas! E se vê que nalgum lado não há amor nem bondade, é aí que é preciso fazer coisas boas e dar amor! Tenho a certeza que consegue ver isto, senhora.” “Sim, consigo,” respondeu ela. “Mas, e se não conseguir que resulte? E supondo que não gostará de mim?” “Vamos, pelo menos, tentar!” — disse Dan. “Suponho que agora estará a sentir-se melhor do que há pouco lá na ponte, não?” Nesse ponto, chegavam à cave onde Tom morava. “É melhor esperar aqui um bocado,” disse Dan, entrando. “Preciso de o avisar.” “Bom, Tom, é assim,” explicou Dan, “há uma senhora que encontrei na ponte. Ela também se achava sozinha, tal como tu. Ela também queria fugir para longe, sabes? De facto, ela queria sair daqui para sempre, ela queria morrer! Os meus pais concordaram que pudesses viver connosco, mas esta mulher precisa mais de ti. Ela precisa mesmo de um filho!” “Ela é pobre ou doente?” perguntou Tom. “Bem, eu posso trabalhar! Eles ensinaram-nos no orfanato. Eu vou cuidar dela!” A mulher, que não podia esperar mais lá fora, ouviu o que Tom dissera. “E eu também cuidarei de ti, meu menino,” ela disse, com lágrimas deslizando de dentro dela. Vou tentar ser uma boa mãe! Eu tenho uma casa grande… “Talvez possas perdoar-me se algo correr diferentemente do que gostarias?” * * * Nesse dia, Dan sentia-se particularmente feliz por aquilo que tinha conseguido fazer! O Grande Operador de Milagres falou-lhe. “Muito bem, meu menino! Hoje compreendeste algo muito importante! Podes ajudar almas a encontrar a felicidade, o amor e a sabedoria; unindo-as de tal forma que elas mesmas podem começar a fazer o bem umas às outras! “É a partir da união destas emoções de amor que as almas encontram a felicidade! “Mas, o milagre mais essencial acontece quando conseguires uni-las a Mim! “Se uma pessoa amar a Deus e se sentir o Meu Amor recíproco, descobrirá uma grande felicidade, muito mais espantosa do que qualquer milagre!” Quando Dan regressou a casa, a sua mãe estava surpreendida. “Onde é que está o Tom?” — perguntou ela. “Preparei-lhe um quarto e a mesa está pronta para o jantar.” Dan contou-lhe tudo o que se havia passado. “Fico contente por tudo lhe ter saído bem!,” disse ela. “No entanto, fico um pouco triste por não ter podido ajudar.” “Quanto a ti, meu filho, como cresceste tanto!” Tive uma outra ideia, mamã,” disse Dan. “Naquele orfanato há muitas mais crianças que não têm uma vida feliz. Não podemos recebê-las todas na nossa casa, mas se começares a ensinar-lhes lá canto e música, poderíamos fazer concertos na vila e, depois, muitas outras crianças poderiam encontrar pais adoptivos para si.” “Oh, Daniel”, exclamou a sua mãe. “Que bela ideia essa!” E foi precisamente o que a mãe de Dan fez. Não demorou para que muita coisa mudasse no orfanato. Até mesmo o encarregado, encantado com a sua nova professora, se tornara mais gentil. E os concertos de música que ofereciam tornaram-se em encontros ainda mais mágicos do que aqueles com que Dan sonhara. * * * Um dia o pai chamou-o ao seu estúdio para falar-lhe de uma coisa importante. “Quero pedir-te uma coisa”, disse ele. “Há uma nova família que se mudou aqui para a cidade e que tem uma pequena menina doente. Depois de um ferimento sério, feito há quatro anos atrás, ela não consegue andar. É possível que passe por uma operação complicada, mas está tão debilitada que seria demasiado para ela. “De momento, não sei o que fazer para a ajudar. É o caso mais triste que já tive. “Se fizesses amizade com ela, talvez o meu tratamento pudesse ter mais efeito. “Ela ainda tem as pernas, depois do acidente?” “Sim, mas não tem sensibilidade nenhuma nelas e não consegue movimentá-las. É o que nós, médicos, chamamos de lesão da coluna. “No entanto, se puderes fazer amizade com ela e ensiná-la a ser um pouquinho mais alegre… Ela chama-se Elisa, e gosta de ler livros com ilustrações.” No dia seguinte, Dan agarrou nalguns dos seus livros mais bonitos, com histórias ilustradas, e partiu para visitar a nova família na cidade. Era Verão, e o tempo estava maravilhoso. Dan tocou à campainha do portão da casa, com um muro plano de tijolo. O porteiro abriu o portão e, depois do pequeno visitante lhe ter dito ao que ia, guiou-o através dum jardim com árvores altas e canteiros de flores bem cuidadas, até à casa grande. A senhora da casa, a mãe de Elisa, abriu-lhe a porta. “Chamo-me Daniel,” disse Dan, apresentando-se. “O meu pai é o pediatra que está a tratar da sua filha Elisa. Vim brincar com ela.” “Tenho muito gosto em conhecer-te, Dan,” disse ela. “Porém, infelizmente, não lhe permitimos visitas. Ela é uma pequena menina muito sensível e gravemente doente. Quando ela vê meninos saudáveis passa, por vezes, dias a chorar, ou retraída. Assim, tentamos protegê-la desses eventos stressantes. “Mesmo na sua cadeira de rodas, especialmente adaptada, ela recusa-se categoricamente a passear pela cidade para escolher novos brinquedos ou roupas. Ela sente-se envergonhada por não ser como as outras crianças, e não poder correr nem brincar. “Foi por isso que nos mudámos para cá e comprámos uma casa com jardim. E mesmo assim, ninguém podendo vê-la, não gosta muito de sair até ao jardim. “Apenas abrimos as janelas para que ela possa respirar ar fresco e admirar as belas árvores.” “Bem, então, por favor entregue-lhe este livro!” disse Dan, dando-lhe o presente que trazia. “Obrigado!” exclamou a mãe de Elisa. “A Elisa vai ficar muito contente. Ela adora ler! E que bonitas imagens tem! És um jovem muito gentil! Gostarias de tomar um chá e comer bolo?” “Obrigado, mas não, obrigado. Despeço-me, então.” O porteiro levou Dan de volta, e o portão de ferro fechou-se, rangendo, atrás dele. Dan passou a tardinha a pensar no que poderia fazer a seguir. “Uma casa tão bonita,” pensava ele, “mas é como uma prisão. O que posso eu fazer e como posso ajudar a Elisa se eles não permitem que a veja? E que faria eu, se eu mesmo não pudesse andar?” Enquanto anoitecia, Dan pensava numa solução para a situação. Nesse momento, Klara, o corvo, entrou voando pela janela aberta. Voou várias vezes à volta do quarto de Dan antes de poisar à sua frente, olhando-o misteriosamente. “Talvez eu pudesse aprender a voar!” pensou Dan, admirando Klara. Klara eriçou as penas da cabeça e pescoço, empinou a cabeça e em acordo disse-lhe: “Bom! Cra-u!” Dan sorriu. “Gostas da ideia?” Bem, as primeiras tentativas de Dan a imitar como Klara levantava voo, levantando e baixando os seus braços, não estavam a resultar. No entanto, convencera-se de que poderia aprender a voar. Durante toda a noite Dan sonhou consigo a voar. Nos seus sonhos era fácil. Apenas dava um pequeno impulso e em menos de nada o seu corpo voava levemente pelo ar! Nem precisava de bater os braços! Apenas precisava de ter intenção de levantar voo, de ganhar alguma velocidade e virar-se para qualquer direção! Quando Dan acordou, antes de amanhecer, descobriu que podia fazer exatamente o que fizera no sonho. Agora podia voar! Que descoberta, esta! Afinal, acabou por ser uma coisa tão simples! * * * No dia seguinte, Dan e Klara dirigiram-se à casa onde Elisa morava. Dan foi a andar para não espantar os transeuntes, mas ia cheio de alegria por poder, na verdade, voar. E Klara voava à sua frente, e depois voltava até ele. Quando chegaram à casa, Dan disse: “Temos de encontrar o quarto da Elisa.” A Klara voou por toda a casa olhando pelas janelas. Depois, poisou no peitoril de uma janela aberta e crocitou baixinho para dar sinal a Dan de que encontrara o quarto! Elisa encontrava-se reclinada na cama, segurando um livro aberto. Precisamente o livro que a mãe lhe entregara no dia anterior. Era um belo livro, e os contos eram tão interessantes e encantadores que Elisa estava alheia a tudo, absorta no mundo dos personagens do livro de contos. E que fabuloso era — um mundo onde todas as dificuldades eram ultrapassadas e, no final, as aventuras sempre acabavam bem! Naquela altura, Elisa virou a página e chegou ao fim do livro. “Se ao menos eu pudesse ficar neste mundo mágico para sempre!” pensou em silêncio. Precisamente então, o corvo poisou no peitoril da janela e crocitou para alguém lá fora. “Cra-u!” Depois, virou-se para saudar Elisa e apresentar-se. “Cra-u, cra-u! Kla-ra!” “Isto é magia!” pensou Elisa para consigo. E, a seguir, aconteceram outras coisas mágicas. Depois de Klara, surgiu no peitoril um rapaz a voar, vindo de parte nenhuma. “Olá, Elisa!” disse ele. “Chamo-me Dan e sou o filho do médico. E esta é a minha amiga Klara” acrescentou, apontando para ela. “Importas-te se entrarmos?” “Já estão cá dentro” exclamou Elisa, espantada, beliscando o seu braço para ver se estava a sonhar. Então, lembrou-se das suas maneiras, acrescentando: “Foste tu que me deste este livro como presente? É muito interessante! Obrigada! ”Dan acomodou-se no peitoril da janela e deu uma risada. “Importas-te que te chame Elisa, e tu me chames Dan, e que sejamos amigos?” “Bem, como vês, eu não sou como as outras crianças” disse Elisa. “Não estou bem. Não consigo andar. Vou parecer-te maçadora.” “Eu também não sou como os outros meninos!” retorquiu Dan. “Eu posso fazer magia, embora ainda não saiba muito! Então, penso que podemos ser amigos!” “E tu acreditas que consegues curar-me?” “Não sei” disse Dan. “Ainda não consegui curar doenças. Mas quero tentar. De qualquer modo, o meu pai também quer muito ajudar-te a ficar melhor, mas nenhum de nós o pode conseguir sem a tua ajuda e a ajuda do Mágico-Chefe!” “O Mágico-Chefe?! Quem é ele?” “Deus. Ele é o Criador de tudo quanto aqui existe — tu, eu, as árvores, o mar, as flores, as montanhas, as estrelas — absolutamente tudo!” “Bem, eu rezo as minhas orações todos os dias, mas isso não ajuda. Suponho que Ele não consegue ouvir-me. Ou, talvez eu não mereça resposta às minhas orações?” “Não, isso é impossível!” retorquiu Dan. “Ele consegue ouvir e entender tudo! Ele responde às orações de todos, mas devemos aprender a entender as Suas respostas! Elisa, não sabes que Ele é o Operador-Chefe de Milagres? Nunca sentiste o Seu Olhar, ou o toque das Suas Mãos Mágicas? Nunca sentiste o Seu alento incutindo ar fresco no calor, e calor no meio do frio? Nunca sentiste o Seu Cuidado Paternal? Ele pode repreender-nos pelos nossos erros e ajudar-nos a compreender como corrigi-los. Temos sempre algo a aprender com Ele! Em tempos de problemas ou perigo Ele fica connosco, dizendo: ‘Não temas, pois Eu estou contigo!’ “Nunca sentiste nada disto?” “Não, nunca” disse Elisa, tristemente e algo irritada. Então, de repente, uma Onda de Luz fez-se sentir sobre ela! “Ah, sim, agora me lembro!” disse ela. “Eu vi-O quando… bem, quando tudo aquilo de mau me aconteceu! Ele disse-me que os meus pais morreriam de tristeza se o meu corpo não regressasse à vida. E ainda me disse outra coisa de que não me lembro muito bem. Sim, o que dizes é verdade! Que bom! Como é que pude esquecer-me?! “E tu, que outras magias consegues fazer?” perguntou Elisa. “Bom, por enquanto ainda estou a aprender com Ele” respondeu-lhe Dan. “Estás a aprender com Deus? Consegues falar com Deus? Podes perguntar-Lhe algo, e Ele ouvir-te e responder-te?” “Claro!” respondeu-lhe Dan. “E tu também consegues! Todos somos Seus filhos! Ele concedeu-nos maravilhosas oportunidades das quais podemos fazer uso! E podemos ajudar-nos uns aos outros a aprender!” “Oh, não há forma de que possa ajudar alguém — disse Elisa. E quanto ao ajudarem-me, não há ninguém que o possa fazer.” “Que dizes?” perguntou-lhe Dan. “Tu já me ajudaste. Ensinaste-me a voar!” “Eu?! Eu ensinei-te a voar?!” “Claro que sim!” retorquiu Dan. “Ontem passei toda a noitinha a pensar como seria a minha vida se não pudesse andar. E agora aprendi a voar, graças a ti e a Klara!” “Então, mostra-me!” Dan suspendeu-se no ar, deu uma voltinha pelo quarto, e parou ao lado da cama de Elisa. “Achas que eu consigo fazer isso?” perguntou Elisa. “Vamos tentar!” disse Dan. Mas Elisa não conseguia levantar voo, por mais que o quisesse. “Nunca nada funciona comigo quando o tento,” suspirou ela, com tristeza. “Não digas isso!” respondeu-lhe Dan. “Julgas que as coisas funcionam logo comigo, à primeira tentativa? Temos de aprender — é por isso que aqui estamos!” Klara voou até à cama e poisou na cabeceira, para se juntar à conversa. “Crau, crau, crau, crau.” crocitou Klara. “Ela acabou de me dizer alguma coisa?” “Sim,” respondeu Dan. “Ela explicou que a aprendizagem é sempre um processo gradual. Os pássaros pequenos têm asas, mas até eles precisam de aprender a voar.” “Achas que ela se importa se eu a afagar?” perguntou-lhe Elisa. “Cra-u!” murmurou Klara, saltitando para junto de Elisa e deixando-a acariciar o seu pescoço. * * * A esta altura, Dan ia ver Elisa quase todos os dias. Ela falou sobre Dan aos seus pais que, ao constatarem a mudança que se operara na sua filha, se encontravam agradados pela amizade entre os dois. “Elisa,” — disse Dan certo dia. “Tenho estado a pensar arduamente numa forma de curar-te. Mas, grande parte vai depender de ti mesma. Eu sei que devo ensinar-te a sorrir e a brilhar através do coração espiritual. Quando o amor floresce nos nossos corações, como uma bela flor, é quando Deus se acomoda dentro deles e Se regozija. Ele sorri para outros seres! E é aí que tu também sorris e te regozijas com Ele! Porque, então, começas a viver no teu coração com Ele! É um sentimento incrível quando tu e Ele estão juntos! “Vamos tentar uma coisa,” prosseguiu Dan. Vamos imaginar que dentro de nós brilha um pequeno sol, e que os seus raios podem tocar tudo, mas de uma forma muito gentil e subtil.” “Queres dizer, tal como se passa contigo?” perguntou Elisa. “É fantástico que consigas ver isso!” respondeu-lhe Dan. “Quer dizer que também vai funcionar contigo!” E, de facto, Elisa foi capaz de sentir o amor e calor do pequeno sol dentro dela, e de ser banhada pela Onda da Sua Felicidade e Alegria. “Isto é incrível!” disse ela. “E agora tenta brilhar a tua luz para todas as pessoas à tua volta. Irradia para Klara, para a tua mãe, o teu pai. “Mas, os meus pais não estão aqui!” protestou Elisa. “Isso não importa!” respondeu Dan. “Os raios do teu pequeno sol podem enviar o seu amor para qualquer distância.” Elisa voltou a tentar, e conseguiu. “Não há muito tempo,” explicou Dan, “descobri que não importava quanta magia podia fazer pelos outros se eles mesmos não descobrissem em si a habilidade de dar amor. É como dar e receber presentes. É agradável receber presentes, mas quando os dás ainda o é mais!” “Mas, já há muito tempo que não dou presentes a ninguém,” assinalou Elisa. “Então, temos de tratar disso!” disse Dan. “Escuta, tenho uma ideia: vamos organizar uma festa de aniversário para ti! Darás presentes aos teus convidados, sorrirás para todos, e irradiarás a tua luz sobre eles com o sol do teu coração espiritual! Estes brinquedos aqui, talvez os possas oferecer como presentes?” “Mas, o meu aniversário foi há três meses!” “Esse não foi o teu verdadeiro aniversário!” retorquiu Dan. “Esse foi apenas um dia normal, dez anos depois do dia em que vieste ao mundo com este corpo. Vamos, agora, celebrar verdadeiramente, para honrar o teu regresso à vida e à alegria! Darás presentes e felicidade às outras pessoas!” “Óptimo!” disse-lhe Elisa. “Gosto dessa ideia! Mas quem vamos convidar? Não conheço ninguém além de ti!” “Vamos convidar crianças de famílias pobres que há muito não tenham ido a uma festa de aniversário,” disse Dan. “Ficarás contente por dar-lhes os teus brinquedos? Tens a certeza de que não te arrependerás de os dar?” “Claro que não!” respondeu Elisa. “Esplêndido! Então, vou falar com os teus pais, e tu também deverias fazer o mesmo! Vamos organizar tudo!” * * * Dan não quis atrasar a conversa com os pais de Elisa, pelo que a teve nesse mesmo dia. “Poderiam oferecer um cavalo a Elisa, pelo seu aniversário? Um cavalo verdadeiro? Eu posso ensiná-la a andar a cavalo. Posso sentar-me atrás dela e apoiá-la. Serei muito cauteloso e ela poderá ver e aprender muitas coisas interessantes!” Os pais de Elisa ficaram surpreendidos com esta sugestão. “Não, Daniel!” responderam-lhe eles. “Isso é muito perigoso. Supõe que algo acontece e agrava a sua situação!” “Pelo contrário, irá ajudá-la a curar-se!” respondeu Dan. “Porque não perguntam ao meu pai?” “Está bem,” concederam. “Vamos pensar um pouco!” “Mas não lhe contem nada sobre isto,” pediu-lhes Dan, como se eles já tivessem concordado com a ideia. “Que seja uma surpresa!” Não demorou muito para que os pais de Elisa se decidissem. A transformação da sua filha, desde a amizade com Dan, era tão grande que decidiram arriscar. Perguntaram ao médico, o pai de Dan, e ele concordou que isso seria benéfico para a pequena menina. E assim começou a festa. No começo, as crianças que tinham sido convidadas mostravam alguma timidez no novo ambiente, e com o facto de Elisa não poder andar. Porém, Dan rapidamente entreteve todas com os seus truques mágicos, ou com adivinhas sobre o que cada uma estaria a pensar ou a desejar. E Klara foi de tão grande ajuda que qualquer sinal de timidez ou incómodo desaparecia por completo. Depois fez-se o lanche com bolo de aniversário e doces. A seguir, Elisa convidou a que escolhessem um brinquedo de que gostassem como presente. Houve uma menina que escolheu não uma boneca, e sim um livro — o mesmo livro que Dan oferecera a Elisa. “Posso ficar com isto?” perguntou ela. Elisa ficou algo hesitante, pois esse livro significava muito para si. Mas logo se iluminou com um sorriso afectuoso a partir do seu coração. “Claro!” disse ela. “Por favor, fica com ele!” “Conseguiste fazê-lo! Este foi o melhor presente que deste, de todos eles!” segredou Dan ao ouvido de Elisa. Nesta altura, o pai de Elisa tomou a sua mão e todos saíram para o jardim. Esperando ali, estava um cavalo branco, o seu presente para Elisa. À vez, todos experimentaram uma volta, com Dan segurando o cavalo pelo freio. Todos estavam imensamente contentes! E a mais contente era Elisa, pois agora podia ir a todo o lado com Dan! Nessa noite, os pais de Elisa abraçaram-se. A mãe secava lágrimas de alegria dos seus olhos. Há quatro anos que não viam a sua filha tão feliz! * * * A partir desse dia, a vida de Elisa mudou consideravelmente. Dan ensinou-a a andar a cavalo. Cada vez cavalgavam para mais longe, montados no cavalo com Elisa à frente e Dan apoiando-a atrás de si. Elisa viu a floresta, o rio e dois lagos, perto da cidade. Ficou mais fortalecida e bronzeada, aprendendo a desfrutar o sol, o trinado dos pássaros, a beleza matinal, e a calma do fim da tarde. O pai de Dan tomou providências para que a menina fosse operada. A saúde de Elisa tinha melhorado de forma notável, e agora considerava que tudo correria bem. Na véspera do dia em que ela deveria ir para o hospital, Dan e Elisa saíram para um passeio a cavalo. Como era habitual, Klara acompanhava-os, voando à frente. Aproximaram-se de uma clareira cheia de margaridas e de campainhas azuis. “Por favor, apanha algumas destas flores para mim!” pediu Elisa. “Não, Elisa!” respondeu Dan. “Cada uma destas flores tem apenas um caule ligado à raiz que lhe dá vida. Não quero apanhá-las, pois assim morrem.” Elisa corou, envergonhada. “Oh, não pensei nisso,” disse ela. “Desculpa-me! Vi e li sobre pessoas que oferecem flores, e pensei que estava bem.” “Sim, isso é o que a maioria das pessoas pensa,” responde Dan. “Mas não devemos apanhá-las para oferecê-las de presente a alguém. Infelizmente, quando as pessoas estão bem de saúde, têm riqueza, e tudo lhes corre bem na vida, deixam de sentir a desgraça e dor de outros seres vivos. Oferecem uma pequena moeda aos mendigos a caminho da igreja, achando que fizeram uma boa ação. Depois, prosseguem com as suas vidas, sem reflectir sobre o facto de que o bem que cada um pode fazer ao mundo é muito maior do que uma pequena moeda! “Quando melhorares, e todas as tristezas e dificuldades forem coisa do passado, nunca serás assim, pois não?” “Vou tentar fazer com que isso não aconteça, Dan!” — replicou ela. “Há uma coisa que te quero contar,” disse ela. “Hoje sonhei que nós os dois estávamos a voar. Será que isto significa que não vou sobreviver à operação?” “Como podes dizer uma coisa dessas?! Já aprendeste a ser corajosa. Dá-me a tua mão, agora vamos voar juntos!” Desta vez funcionou para Dan. Ele já se tornara suficientemente forte para permitir que ambos pudessem voar juntos. Assim, levantaram voo e elevaram-se sobre a clareira, as árvores e o lago. E depois regressaram a casa, calmamente, conscientes de que o Grande Operador de Milagres lhes dera o milagre daquele dia, que recordariam sempre. E que, juntos com Ele, qualquer milagre lhes era possível! * * * Deste modo, a nossa história sobre o menino que podia fazer magia chega ao fim. Elisa fora operada e havia recuperado toda a sua saúde, e a capacidade de voltar a andar. Quando se tornaram adultos, Elisa passou a ser a mulher de Dan, e assistente das suas fantásticas demonstrações de magia, com as quais viajaram pelo mundo. Dan nunca deixou de aprender, tendo-se transformado num verdadeiro Operador de Milagres. Era o amor de ambos que os ajudava, constantemente, a realizar verdadeiros e Grandes Milagres Divinos, e a ensinar outras pessoas merecedoras a fazer o mesmo!
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