A história de MatryonushkaNarrada por Lada Anotada por Anna Zubkova Vladimir Antonov, Editor da versão Russa Traduzido de inglês para português por Era uma vez uma menina chamada Matryonushka. Agradável de rosto e aparência, era também amável para com as pessoas. A sua trança de cabelo ruivo dava-lhe por baixo da cintura. Os seus olhos eram tão azuis como centáureas. Ela vivia sozinha numa pequena cabana do bosque, ao lado de um pequeno riacho de corrente rápida que alimentava um grande lago. No entanto, Matryonushka não era orfã. Ainda tinha a sua mãe e seu pai, e dois irmãos mais velhos. Do outro lado do lago, ficava a vila onde ela nascera, e onde vivia a sua família. Mas, então, porque é que Matryonushka foi viver sozinha? Ora, é mesmo isto que te vou contar. Desde muita pequena, Matryonushka sempre sobressaíra pela sua excepcional bondade. Para cada pássaro, ou qualquer outro animal, os seus pensamentos eram sempre de não lhes causar qualquer dano, mas antes de cuidar deles ternamente e de os afagar. Cada florzinha, cada rebento, amava-os como amigos. Qualquer que fosse o pequeno animal — cachorros, gatos, vacas, cavalos, cabras, ovelhas, galinhas ou gansos — ela amava-os a todos! Também era amável para com as pessoas. Estava sempre disposta a ajudar no que podia! Tinha sempre boas palavras a dizer sobre todos! Nem sequer pensava mal sobre alguém! A sua mãe e o seu pai não podiam estar mais felizes por terem uma filha tão boa na família! No entanto, acontecia que viver com o bom coração de Matryonushka não era algo fácil de fazer. Como decorria a vida na vila? Os bezerros, leitões, galinhas e galos, vinham ao mundo e eram alimentados, e depois abatidos pela sua carne e comidos! Desde tempos imemoriais que era assim que as coisas eram feitas naquelas partes. Mas quando Matryonushka cresceu um pouco mais e começou a perceber, a simples visão de tudo isso trazia-lhe lágrimas aos olhos, e ela recusava-se categoricamente a comer qualquer alimento vindo de um animal que tivesse sido morto. Não importava nada o quanto tentassem obrigá-la, ela não cedia! Apesar de todas as tentativas do seu pai e irmãos mais velhos de impor-se sobre ela e convencê-la, ela não queria nada daquilo! Por sua vez, Matryonushka colhia morangos silvestres e cogumelos na floresta, e preparava tortas e panquecas para toda a família. Mas à carne recusava-se a tocá-la, como se pudesse sentir a dor do animal morto! De forma semelhante, conseguia sentir sempre a dor dos outros. E foi assim que, quando começou a crescer, Matryonushka pediu ao seu pai e irmãos que a ajudassem a construir uma casinha perto da borda da floresta, e permitissem que ela ali morasse, separadamente deles. A princípio, os seus pais não queriam deixá-la morar sozinha, mas acabaram por ceder, uma vez que naquela altura Matryonushka já era conhecida em toda a aldeia, não apenas pelo que muitos viam como a sua bondade “estranha”, mas também pela sua habilidade para preparar chás de ervas medicinais e tratar de diversas doenças. Ela colhia ervas selvagens, secava-as, e sabia muitas coisas que os outros não sabiam. Mas, como teria aprendido tudo isto? Bem, desde muito pequena, Matryonushka gostava de conversar com as diferentes plantas. Se saía para o prado, começava logo a falar com as flores e as ervas silvestres. Ou, se ia para a floresta, abraçava uma árvore e também conversava com ela! Falava sobre o que estava a pensar, e pedia conselhos a uma flor ou a uma árvore. A princípio, não ouvia respostas. As flores e árvores inclinavam-se, ou agitavam as suas cabeças e ramos como se lhe dissessem “sim” ou “não”. Depois Matryonushka começou a escutar por vezes uma Voz bondosa e gentil a responder às suas perguntas. Inicialmente, pensou que eram as flores e as árvores a conversar com ela. E quando Matryonushka começou a tentar curar pessoas, percebeu que a Voz era a Voz de Deus. Era Ele, dando-lhe conselhos importantes! Assim, com o passar do tempo, Matryonushka começou a reconhecer todas as propriedades úteis das plantas, quando colhê-las, como secá-las, como fazer infusões, e que doenças poderiam ajudar a tratar. E, quando colhia as plantas, fazia sempre questão de dizer “Por favor, perdoa-me, querida plantinha. Estou a colher-te, não por diversão apenas para depois deitar-te fora, mas para ajudar a tratar as doenças das pessoas!” E se um pequeno galho de árvore fosse quebrado pelo vento, Matryonushka apanhava as agulhas ou folhas do galho para também fazer infusões com elas. Então, os pequenos animais da floresta começaram a aproximar-se dela, umas vezes para que Matryonushka os curasse, e outras apenas para se aconchegarem a ela e brincarem. Foi assim que Matryonushka fez amigos fiéis entre os animais da floresta, e que os pássaros começaram a voar até ela e a cantar as suas canções. E quando alguém vinha pelo bosque em direcção à casinha de Matryonushka, havia sempre ali diferentes vozes para a avisar. * * * Um dia, um enorme urso foi ver Matryonushka. Ele prendera a pata numa armadilha armada por caçadores. O urso tivera força suficiente para arrancar o galho ao qual a armadilha estava amarrada e fugir, mas não conseguira livrar a pata da armadilha. Com as mandíbulas de ferro da armadilha a morder o osso da sua pata, o urso tinha mancado até Matryonushka à procura de ajuda. O urso era enorme, mas Matryonushka não tinha medo. Ela aproximou-se dele: “Dá-me a tua pata, meu amigo urso,” disse ela, com uma voz gentil, “vou tirá-la da armadilha e fazer com que melhore.” O urso, que agonizava com a dor, deixou que Matryonushka libertasse a sua pata da armadilha e que aplicasse um pouco de pomada cicatrizante na ferida. A partir desse dia, o urso fez a sua casa nas proximidades e passou a alertar Matryonushka sobre qualquer perigo, agindo como seu protetor. Matryonushka observava o comportamento de diferentes animais. Notava que planta comia cada animal, e com que propósito. Os animais não tinham o menor medo dela. E assim o conhecimento de Matryonushka cresceu e cresceu. Matryonushka também aprendera, de acordo com as Instruções Divinas, como fazer água curativa, e como melhor usar a água para tratar doenças. Não demorou muito para que Matryonushka começasse a perceber que as suas mãos pareciam ter a capacidade de ver. Ao passar os dedos e as mãos pelo corpo de quem estava a tratar, conseguia ver exatamente onde estava a origem da doença. Mas, mais do que isso, cedo reconheceu que não eram simplesmente as mãos do seu próprio corpo, mas dentro delas, ou além delas, as mãos da alma. E era possível usar essas mãos da alma para reunir as energias escuras dentro do corpo e expulsá-las. E também era possível encher o corpo de luz, semelhante à luz do sol, e lavar tudo dentro dele com essa luz. Gradualmente, Matryonushka adquiriu a completa certeza de que o que ouvia era a Voz de Deus, tanto quando ela mesma fazia perguntas, como quando o Próprio Deus lhe queria dizer algo. E começou a ver a Luz Divina sempre que voltava o olhar da alma para Ela. Também aprendeu a unir-se a esta Luz. E, então, a Luz começou a fluir facilmente através dos braços da sua alma, e ao fundir-se com a Luz podia curar enfermidades. Também começou a notar que era possível que a doença regressasse à pessoa, apesar do tratamento aplicado. Isto acontecia se a pessoa não mudasse para melhor, se não tentasse enfrentar a causa da doença. E Deus começou a revelar as causas das doenças a Matryonushka. Ela começou a descobrir muito mais sobre a cura, não só do corpo, mas também da alma humana. Começou a ensinar as pessoas a ajudarem-se na sua cura e na de outros, e a viver de forma saudável e feliz. E assim foi que Matryonushka depressa chegou a saber como curar qualquer doença. A sua reputação espalhou-se, e pessoas vinham vê-la mesmo de povoações distantes, em busca de medicamentos, conselhos e cura. * * * Mas algumas também vinham querendo que ela fizesse magia e feitiçaria. Uma jovem veio para lhe pedir uma poção de amor, para enfeitiçar um rapaz que lhe agradava, pois ele — canalha que era! — amava outra! Ou então surgia um homem querendo saber como poderia matar um amargo inimigo. Matryonushka dizia-lhes que não deveríamos desejar o mal aos outros, que essa não era a maneira correcta de pensar e se comportar, mas não havia fim para as ideias malignas que atormentavam a vida de algumas pessoas. E assim compreendeu que não apenas os corpos podiam estar deformados, doentes e cegos, mas também as almas. Mas, como poderiam as almas ser curadas do mal? Esta questão repetia-se vezes sem conta na mente de Matryonushka, e cada vez mais frequentemente perguntava isto a Deus. Qual era o tratamento para a malícia humana, a insensibilidade, o ressentimento, os ciúmes e a inveja? Esta foi a resposta que Deus lhe deu: “O amor do coração é a mão amiga em todos os infortúnios! Esse amor precisa de ser despertado nas almas! Não é uma tarefa fácil, mas é muito importante!” “Em todos há algo de bom, por mais pequeno que seja. É este algo de bom que deve ser encontrado! E então será possível ajudar essa alma a sair do abismo do mal!” “Mas a própria pessoa deve querer absolutamente que assim seja, ou em nada resultará. Assim é porque toda a alma tem livre-arbítrio, e cada indivíduo tem uma escolha: inclinar-se para o bem ou para o mal.” * * * Certo día, uma jovem veio ver Matryonushka, queixando-se sobre a sua sorte na vida. “Sou tão miserável e infeliz! Tenho uma irmã que é tão bonita! Todos os rapazes só têm olhos para ela! É a única cuja mão procuram em casamento! Na sua presença ninguém repara em mim!” “Que devo fazer para não ser eclipsada pela sua beleza e viver sempre na sua sombra?” “Não sou uma grande beldade, nem especialmente inteligente. E é por isso que toda a atenção vai para a minha irmã! A mim, ninguém me quer! Ninguém jamais casará comigo!” “Sabes o que é menos atrativo em ti?” “O meu nariz?”, perguntou alarmada. “Talvez seja demasiado grande? Ou é a pequena marca de nascença na minha bochecha?” “Ou é porque sou muito gorda? Mas muitos rapazes gostam de quadris bem arredondados e seios fartos. Eu sou assim porque quando estou triste não consigo parar de comer. Afinal, temos de nos confortar de algum modo!” “Então, decidiste que o melhor tratamento para a decepção é comer algo saboroso? Não consegues ver que isso só te dá conforto enquanto tens o sabor doce na boca?”, perguntou Matryonushka com um sorriso. “Mas então qual é para mim o caminho a seguir? Como que posso livrar-me deste sofrimento e ciúmes?” “Queres que te conte o segredo de como podes ficar mais bonita? Repara, o que há de menos bonito em ti são o ciúme e a preocupação apenas contigo mesma!” “Mas como posso deixar de sentir ciúmes? A minha irmã fica com tudo e, ainda assim, devo desejar-lhe mais bondade e felicidade?” “Escuta: a verdadeira beleza está na beleza da alma! Quando a alma é bela, é um prazer ouvir tal pessoa e estar na sua companhia! Então o rosto dela torna-se agradável, e outras pessoas não conseguem tirar os olhos da luz do coração que irradia da alma!” “Mas como podemos tornar a alma bonita?” “Precisamos de despertar esse amor do coração dentro de nós! Sim, podemos ter inveja da felicidade alheia, mas também podemos aprender a partilhar a felicidade, a ser felizes junto da outra pessoa! E então, através de algo tão simples quanto isto, a tua vida torna-se repleta de felicidade e beleza! Deixa-me dar-te alguns conselhos para te ajudar a acordar a tua beleza: Levanta-te com o nascer do sol! Faz do dia um dia de alegria renascida! Caminha sobre a Terra descalça! Banha-te no orvalho da manhã! Vive a partir do coração e através do teu sorriso, Olha sempre para o Pai: Deus, por favor, aceita o meu agradecimento, eu rezo por toda a felicidade deste dia! Assim, a cada dia tornar-te-ás mais bela, tanto de corpo como de alma! Quando sentes a Mãe Terra debaixo dos teus pés, a força e a boa saúde vêm até ti! Quando lavas o rosto no orvalho, ficas mais bonita! Se sorris a partir do coração, e acompanhas isto com acções e palavras gentis, todos gostarão de ti e ganharás o carinho de todos! E se agradeceres a Deus pela felicidade que Ele te envia, começarás a sentir a Sua Presença e Ajuda ao longo do dia! E então ficarás envergonhada diante de Deus por seres ciumenta, por causar problemas aos outros, por perder a paciência ou por te ofenderes! Então, deixarás de fazer essas coisas! E quando parares de te ofender, os outros pararão de ofender-te! Pararás de guardar rancor e de ter ciúmes, e vais entender que a felicidade dos outros também te traz alegria! E, então, a felicidade também entrará na tua vida! E se começares a sentir-te ofendida com alguma coisa, voltarás o teu olhar para Deus e pensarás novamente, porque o que costumavas pensar que era um problema ou um castigo, não o era. De facto, era antes a inspiração de Deus! Isto também é uma Indicação Divina: como tornar a tua vida melhor, como transformar-te para melhor, e como dar alegria e felicidade às outras pessoas!” * * * Um dia Matryonushka foi até ao rio, e dois ladrões com armas de fogo entraram na sua cabana para roubar. Eles acreditavam que ela recebera muito dinheiro daqueles que tinha tratado. Não sabiam que Matryonushka nunca recebera pagamento algum pelos seus tratamentos. Mas isso era algo que os ladrões nem conseguiriam imaginar, uma vez que procuravam sempre beneficiar-se a si mesmos e viam as riquezas terrenas como prémios seus. Mas acabaram por não encontrar algo para roubar na cabana de Matryonushka. Irados, olharam à sua volta: talvez ela o tivesse escondido nalgum lugar? Mas não conseguiram encontrar nada. Apenas ervas medicinais, infusões curativas, cogumelos secos e morangos silvestres. Decidiram procurar lá fora, caso ela tivesse escondido um cofre do tesouro nalgum sítio. Para isso, pousaram as suas armas junto à parede. Nessa altura, o urso amigo de Matryonushka lançou-se sobre eles. Rosnou furioso, perseguindo os hostis intrusos! Os ladrões não conseguiram agarrar nas suas armas, pois o urso havia cortado o seu caminho. Então começaram a correr para onde quer que as suas pernas os levassem, com o urso no seu encalço! Acabaram num pântano, presos no lamaçal, sem se conseguirem mexer. O urso seguiu o seu caminho, evitando o pântano. Lentamente, os ladrões afundaram-se na lama. Quanto mais tentavam sair, mais rápido se afundavam. Sentindo que a morte era iminente e inevitável, recordaram-se de que as suas vidas tinham sido repletas de actos criminosos. Isso deixou-os ainda mais desesperados e começaram a gritar e a berrar por socorro. Matryonushka regressou à sua cabana e reparou nas armas apoiadas perto da porta, tudo no interior revolto. Ouviu gritos vindos do pântano. Pegou numa vara longa e forte e correu para o salvamento. Puxou os dois ladrões para fora, levou-os até ao rio e disse-lhes que se lavassem e às suas roupas. Depois, levou-os até à sua cabana, deu-lhes roupas lavadas enquanto eles esperavam que as suas secassem ao sol, e deu-lhes comida. “Porque nos salvaste?”, perguntaram os ladrões, surpresos. “Quisemos fazer-te mal e tu respondes-nos com bondade!” “Agora compreendem o que é o mal, que só leva à desgraça de quem o escolhe! Reparem, quiseram fazer mal a alguém, mas acabaram no pântano e quase morreram! O mal nas vossas vidas é como esse pântano, suga-vos. Por vezes não se consegue sair desse abismo! O mal que fazem aos outros armazena um grande infortúnio para vocês mesmos no futuro! O pior infortúnio possível! Por isso vos salvei: para que entendam isto!” “Mas, como vamos agora viver se só sabemos disparar as nossas armas e roubar? “Não podem cortar lenha? Não podem cavar?” “Bem, suponho que sim, podemos…” “Então saiam para o mundo e ofereçam ajuda em casas onde as mulheres têm idade avançada ou são viúvas, e não haja alguém para fazer o trabalho de homens! Em troca ficarão mais do que satisfeitos! E quanto a riquezas, esqueçam-nas! Aqueles que vivem do seu trabalho trazem felicidade para as suas vidas. Aqueles que ganham a vida a roubar, apenas roubam a si mesmos a sua própria felicidade! Se começarem a levar uma vida honesta, o futuro que vos é reservado será diferente! E quanto aos pecados do vosso passado, peçam também perdão a Deus, assim como àqueles a quem fizeram mal!” Foi assim que dois homens, que antes eram ladrões, saíram para o mundo e foram aprendendo a viver as suas vidas de novo. E agora, Matryonushka — como em todo o seu trabalho de cura — começava a compreender não só como curar o corpo, mas também como corrigir a alma. Começou a procurar formas pelas quais a pessoa podia ajudar-se a si mesma, para tornar a sua vida melhor. Ela começou a pensar como as pessoas podiam aprender a não trazer novos infortúnios e doenças para si mesmas, através de pensamentos impuros e ações erradas. Dizia às pessoas que se alegrassem todos os dias e vivessem uma vida de bondade, amor e felicidade, o mandamento de Deus para todas as pessoas! * * * Certo dia, um ex-soldado andando de muletas veio ver Matryonushka. A sua perna tinha sido arrancada por uma bala de canhão na guerra, tendo ficado aleijado para o resto da sua vida. E a guerra não tinha paralisado só o seu corpo, mas também a alma. “Matryona”, disse. “A senhora sabe como curar as pessoas. Então, também deve conhecer todos os tipos de venenos, e algum que se possa tomar para morrer sem viver na miséria. Às vezes, pode ser um grande serviço ajudar alguém a deixar esta vida facilmente.” “A duração da vida de cada um é determinada por Deus! Se a vida aqui é difícil e estás triste e amargurado contra o mundo inteiro, não será melhor depois da morte!” “Quer dizer que sabe o que acontece depois da morte?” “Como não o saberia? Claro que sei! Nós continuamos a viver como almas sem os nossos corpos! Como éramos em vida, assim permanecemos depois da morte do nosso corpo! É possível viver sem um corpo, e talvez isso até seja mais fácil para a alma. Mas é muito pouco o que a alma pode mudar sem o corpo! É por isso que é dado um corpo às pessoas: para criarem o bem e a beleza, para ajudarem outras pessoas e para corrigirem os seus próprios erros!” “Bem, se a senhora é tão sábia talvez saiba como devo continuar a minha vida? Sonhava em voltar da guerra, casar, construir uma casa nova e criar filhos. E agora, que tipo de homem sou eu? Um aleijado! Não sei lavrar, não tenho força para construir uma casa. Quem vai querer casar-se com um homem como eu?” “Há uma garota que gosta de ti! Ela estava à espera que regressasses da guerra. E agora está à espera de que pares de te intoxicar com vinho e a peças em casamento.” “Como é que sabe isso?” “Toda a gente vem ver-me com os seus problemas, doenças e preocupações, é por isso que sei tanto. “Não estou disposto a pedir esmola. Como poderia fazer vida com uma jovem esposa?” “Contaram-me que antes adoravas desenhar, decorar persianas e fazer colheres e tigelas de madeira.” “Sim, gostava.” “Bom, aí está o teu trabalho! Poderás vender as tuas colheres e tigelas decorativas. O que precisares em casa poderá ser comprado com o dinheiro que fizeres.” “Sim, ainda tenho as minhas tintas. Estão guardadas há muito tempo. Mas os meus pincéis já estão muito gastos. Vou precisar de fazer uns novos. Parece que terei de caçar esquilos.” “Não deves fazer mal aos esquilos! Deixa-me que te dê isto para dar sorte: faz os teus próprios pincéis!” Com estas palavras, Matryonushka cortou uma mão cheia do seu grosso cabelo entrançado, pegou num pedaço de cordel e deu-lhos. “Obrigado, Matryonushka! As pessoas têm razão em dizer que podes curar qualquer coisa! Deste-me esperança! É como se tivesse renascido!” “Agora a tua felicidade e a da tua eleita dependem somente de ti! E não te esqueças de convidar-me para o casamento!” * * * Esse soldado não tinha sido o único a ficar aleijado pela recente guerra naquele país. Muitas pessoas sofreram grandes angústias. A vitória, porém, foi declarada como uma grande conquista! O principal comandante militar do czar e encarregado de todos os seus homens, o príncipe Bronislav, tinha garantido muitas vitórias e também tinha vencido esta guerra para o czar. Mas também ele fora gravemente ferido em combate. Bronislav fora corajoso, ele não se tinha escondido atrás dos soldados! Através da sua própria coragem e ousadia, também tinha inspirado outros a actos de valentia militar! A sua glória era conhecida em toda o território. “Ele é o nosso herói!", diziam. “Ele lutou pelo czar e o seu país! Superou muitos inimigos e venceu muitas batalhas! Salvou pessoalmente muitos dos seus próprios soldados! É tido em grande estima por todos! Foi devidamente recompensado pelo czar em terras e ouro!” No entanto, as feridas de Bronislav não cicatrizavam! Estava incapaz de levantar-se da cama, incapaz de recuperar a sua força anterior. Outrora de constituição Hercúlea e bonito semblante, agora passava todos os seus dias confinado à cama, mal conseguindo levantar um braço, completamente impotente para se levantar. A notícia de uma garota chamada Matryonushka, que curava qualquer doença, chegou até si. Ele enviou os seus lacaios para descobrir o seu paradeiro e averiguar se era verdade o que as pessoas diziam sobre os seus poderes curativos. Os lacaios regressaram e relataram que, de facto, a garota existia, e que todos os que tinham ido vê-la tinham sido curados das suas doenças. Então, carregaram o herói numa maca até à pequena cabana do bosque, onde vivia Matryonushka. Matryonushka veio à porta. “Deixem o vosso príncipe aqui comigo”, disse aos lacaios de Bronislav. “Talvez o possa ajudar a restaurar a saúde. Se assim for, daqui a um mês ele regressará até vós, pelo seu próprio pé. Senão, então devem vir aqui buscá-lo.” Bronislav ficou aborrecido. “Mas disseram-me que podia curar qualquer doença. Estou preparado para pagar o preço pelo seu tratamento curativo. Tenho ouro e grandes domínios com casas e jardins. O que quer que peça será seu! Apenas restaure a minha saúde! Estar confinado numa cama, impotente e enfermo, não é vida!” “Eu não recebo dinheiro pelo meu tratamento, princípe! Desejo com todo o meu coração devolver-lhe a sua saúde! Mas isso não depende unicamente de mim. Muito também dependerá de si. E, sobretudo, de Deus! É através Dele — mediante as nossas doenças e sofrimentos — que recebemos orientações sobre como devemos viver. É Dele que recebemos ajuda neste processo de cura! E foi assim que Bronislav ficou na pequena cabana de Matryonushka, na floresta. Ela deu-lhe a beber infusões curativas, e cuidou das suas feridas com pomadas medicinais. Com o passar de cada dia, a condição de Bronislav começou a melhorar. Matryonushka começou a ajudá-lo a ir até à bétula que crescia ao lado da sua casa. Ela disse-lhe que aprendesse com a bétula a sentir como a força também pode voltar ao corpo. “Sinta: na Primavera, a bétula absorve a humidade, e a força da Mãe-Terra, com as suas raízes até às pontas das suas folhas para ajudá-la a crescer. Coloca novas folhas nos seus galhos. O mesmo acontece com o corpo humano: a força vital doada por Deus flui, e atinge todas as partes do corpo e cura tudo!” Então ela começou a ensinar Bronislav que, assim como respiramos o ar, podemos inspirar a Luz Divina em toda a sua misericórdia, como o sol da manhã. E ensinou-lhe a respirar assim, de modo a preencher todo o corpo com esta Luz enquanto inalamos, e a exalar tudo o que não é saudável enquanto expiramos. Com o passar do tempo, o corpo de Bronislav foi cada vez mais inundado por esta Luz. A sua antiga força começou a regressar. Os dois passaram muito tempo juntos, a conversar. Bronislav queria saber tudo sobre Matryonushka. “Porque é que mora sozinha na floresta? E como vive sem dinheiro se não aceita pagamento pela sua cura?” Matryonushka respondeu com um sorriso, como se as palavras lhe chegassem em verso: “A floresta é a minha casa e o meu lar! Vejo a beleza da Terra! No Verão admiro o verde, no Inverno a paz é branca e limpa, as cores douradas que o Outono trará, as delicadas flores da Primavera. Na Primavera os meus legumes são semeados, no Verão eu colho o que cresceu, no Outono ponho os cogumelos a secar, é tudo o que preciso para sobreviver!” “Mas não acha isto aqui assustador, ou enfadonho?” “Não tenho tempo para o tédio”, disse Matryonushka com seriedade. “Tenho sempre trabalho para fazer! E quanto ao medo não tenho nenhum, porque tenho Deus na minha vida. Tudo o chega à minha vida vem através Dele!” Bronislav escutava-a com admiração! Bela de rosto e forma, era Matryonushka! Mas, mais do que isso, a sua lucidez espiritual, pureza e força, o calor do seu coração e a sua confiança encheram-no de prazer e alegria, como se a conhecesse desde sempre. Ele era o homem mais feliz do mundo! As conversas de Matryonushka com o príncipe também versavam assuntos sérios. “Bronislav, o que acha: os actos de guerra são justos ou injustos aos olhos de Deus?” “O que há para pensar? O czar dá a ordem, e o meu dever é cumpri-la corretamente!” “Mas e se for ordenado a fazer o mal, a cometer algum tipo de crime, também cumpriria uma ordem criminosa?” “Não, preferia morrer! “E a guerra, é algo bom ou mau?” “Isso, eu não sei.” “Por isso é que as suas feridas estão a demorar a sarar, para que possa refletir sobre isto. Porque salvou a vida de outras pessoas, a sua própria vida foi poupada. Mas por aqueles que matou ou mutilou, recebeu ferimentos graves. Agora pode pensar sobre isto: As ordens do czar são sempre justas? Essa guerra foi justa? É aceitável — perante Deus — travar uma guerra injusta? É heroísmo cumprir ordens desumanas?” “Para um soldado, não cumprir ordens significa que será imediatamente fuzilado.” “Mas como príncipe, o czar tem-no em grande estima. Escuta sempre os seus conselhos! É um herói! Ninguém pensaria que pode ser um cobarde! Se o czar pensar novamente em atacar outros países, será capaz de o deter! Muitas brigas e conflitos podem resolver-se por meios pacíficos! Que se deixe que todas as pessoas vivam felizes e em paz nas suas próprias terras!” Bronislav começou a reflectir sobre estas coisas. E foi quando percebeu que tinha cometido muitos actos injustos na sua vida, e disso se arrependeu, que finalmente recuperou a saúde. Matryonushka levou-o até lá fora e, com o seu balde, encharcou-o com água fria do rio. Então, Bronislav foi preenchido com uma força para o bem, muito maior do que a força que tinha antes da sua doença. Quanto às suas feridas, nenhum vestígio delas permaneceu no seu corpo! Ele ficou maravilhado com este milagre! No dia seguinte, aproximaram-se para se despedirem. “Como posso agradecer-lhe, querida Matryonushka, por restaurar a minha saúde?” “Assegure-se de que nenhum sangue de soldado seja derramado em vão, e que o nosso país e outros não sejam afectados pela guerra! Essa é a melhor maneira de me agradecer, e ficarei para sempre feliz por ter conseguido curá-lo!” * * * Algum tempo depois, um homem veio ver Matryonushka procurando um remédio. Tinha chegado da capital com a última notícia de que em breve haveria uma nova guerra, pois o czar queria conquistar o reino vizinho. O homem contou como Bronislav se recusara a assumir o comando do exército e que, por esse motivo, fora considerado culpado de alta traição e enviado para a prisão. Assim que Matryonushka ouviu isto, preparou-se imediatamente para partir de viagem. “Leve-me até à capital na sua carruagem”, disse ela ao homem. Tenho de me apressar! A culpa é toda minha: fui eu que aconselhei Bronislav a viver de acordo com sua consciência e a agir por amor. Foi assim que o coloquei em apuros! Agora devo ir socorrê-lo!” “Pretende ir até ao próprio czar? Não tem medo de ir em defesa do príncipe caído em desgraça? E se não só falhar em salvá-lo, mas também perder a sua própria vida?” “Não, não tenho medo! O que for, será! Não há escapatória! Se necessário for, morrerei pelo bem da verdade!” * * * Matryonushka realmente foi até à capital, mas recusaram-se a deixá-la entrar no palácio para ver o czar. Ela estava perdida, sem saber o que fazer. Mas isso não durou muito. De repente, o czar adoeceu com uma doença desconhecida e foi posto de cama. Temendo a morte, mandou procurar médicos. Foi, então, que as portas do palácio se abriram a Matryonushka. “Cura-me!”, disse o czar a Matryonushka. “Tenho dores no meu coração, estou a perder a vista e os meus braços e pernas estão dormentes. Sinto que a morte não está muito longe! Mas esta não é altura para eu morrer: a guerra deve começar em breve! Sem mim, tudo aqui será destruído! Devolva-me a saúde! Para isso, realizarei qualquer desejo que tenha! O que quiser, é só pedir!” “Mas, senhor, como posso curar o seu coração se não sabe como demonstrar amor pelas pessoas – pelo seu próprio povo?”, respondeu ela. “Como posso curar os seus olhos se não consegue ver Deus com a alma? Olha para o que é bom, mas vê-o como mau e pune-o. E o que é mau, proclama como bom e recompensa-o! Tenta realizar os seus malvados esquemas! É neste caminho que acabará por ficar completamente cego! “Como posso tratar os seus braços, Senhor, se os usa para escrever decretos injustos? E tenciona fazer uso das suas pernas, e as do seu exército, para criar tumulto sobre a terra de outro povo! Para recuperar a sua saúde deve mudar-se a si mesmo!” “Mas... como posso fazer isso?” “Nas leis do seu reino”, respondeu Matryonushka, “está decretado que se um homem rouba algo a outro, ele é um ladrão e um criminoso. “Se o senhor deseja tomar terras e riquezas do reino vizinho, então o que isso faz de si também? “ “Como ousa falar assim com o czar?!”, exclamou com raiva, levantando-se da cama com o que restava das suas forças. “Pediu-me que o curasse, portanto, estou a tratar de o curar! Se não entender que a vida na Terra nos foi dada por Deus, e como essa vida deve ser vivida aos olhos de Deus, não há como recuperar a sua saúde! Cada vida humana tem um grande propósito, e está ao alcance de todos nós entendê-lo! Esse propósito é transformarmo-nos como almas para melhor, e ajudarmos os outros. Na realidade, toda a gente tem apenas um czar que é concedido a cada pessoa por Deus, e que está dentro da alma. Quando o corpo morre, as únicas riquezas que têm importância são as que se acumularam no reino da alma. Só aí podem as riquezas imortais de cada um de nós ser preservadas. E essas riquezas são bondade, preocupação com os outros, perdão e sabedoria. O seu corpo morrerá e outra pessoa governará o seu reino terreno. Depois da morte do corpo, resta apenas um poder no além: o Poder de Deus! Irá perceber que, nesse mundo onde se encontrará, nenhum ouro tem valor! E, neste mundo habitado pelos vivos, não terá mais influência no destino do seu reino terreno! Só lhe sobrará arrependimento pela desgraça e angústia semeada pelos seus actos injustos! Deve entender agora, estando vivo na Terra, que o seu futuro depende apenas de si, senhor! Examine as suas próprias qualidades: há paz e ordem, amor e beleza, no reino da sua alma, ou há desânimo, raiva, suspeita e malícia? Essas mesmas qualidades também dividem as almas no outro mundo. Cada pessoa escolhe sozinha – mediante os seus pensamentos, emoções e acções –, os acompanhantes com os quais estará no mundo depois da morte. Se cultivarmos a bondade em nós mesmos, ninguém será prejudicado como resultado e ninguém será privado de nada. E quando o reino interior de uma pessoa se torna tão sublime quanto o reino de Deus, chega também a verdadeira felicidade! Então, essa pessoa apresenta a Deus todo o reino pessoal interior, e alcança o infinito Reino de Deus que não conhece limites, que é o mesmo para todos os que O alcançaram!” O czar escutou-a, e à medida que compreendia as palavras de Matryonushka, parecia sentir-se aliviado. Matryonushka continuou. “Se há paz, ordem e compreensão das Leis de Deus no seu reino interior espiritual, também lhe será fácil promover a ordem no seu reino aqui na Terra. Porque assim tornar-se-á capaz de aprender a distinguir entre o que é bom e o que é mau para as outras pessoas. Se despertar o amor no seu coração, se começar a olhar para tudo com o seu coração espiritual, isto ser-lhe-á fácil de entender! Imagine-se na posição de alguém condenado a viver na pobreza e na miséria por causa das suas ordens! Coloque-se na posição daqueles que são obrigados a ir para a guerra e matar outras pessoas, por sua ordem! Sinta a dor das viúvas e dos órfãos que ficaram sem o sustento da família! Sinta a dor dos aleijados, que agora vivem de esmolas por sua culpa! Está no seu poder melhorar a vida do povo do seu país! Agora, pode fazer leis sábias e pensar na ordem no seu próprio país, em lugar de sonhar com novas conquistas e guerras predatórias!” O czar concordou com Matryonushka, e começou a pensar no bem que poderia ser feito pelas pessoas. Então ela, com a Ajuda de Deus, curou as suas aflições. “Peça o que quiser!”, disse-lhe o czar. “Devo pedir-lhe que não comece uma guerra com o nosso reino vizinho?” “Não, não há necessidade. Agora eu entendo. De que forma posso, então, recompensá-la?” “O príncipe Bronislav está na prisão. Liberte-o. Ele é-lhe leal e deseja o bem para o seu país!” “Assim seja, o seu desejo ser-lhe-á concedido!” * * * Bronislav foi libertado da prisão. A sua satisfação ao encontrar-se com Matryonushka foi indescritível. “Salvaste-me, mais uma vez! Se não fosses tu, Matryonushka, teria passado o resto dos meus dias a definhar na prisão. Ou teria sido enviado para execução!” “Estou contente, Bronislav, por não teres tido medo de ir contra a vontade do czar e por lhe teres dito a verdade!” “De qualquer modo eu nunca tive medo de nada. Mas contigo vi claramente Deus e a verdade da vida! Porque deveria agora ter medo? Pelo contrário, compreendi muitas coisas nos dias em que estive encarcerado! Só há algo de que me arrependo: que não tenha conseguido declarar o meu amor por ti e falar-te da minha gratidão! Matryonushka, casas-te comigo?” “Mas que tipo de princesa sou eu? Venho de uma família humilde. Viver sem o meu trabalho, sem curar pessoas, é algo que não consigo fazer.” “Onde reside o valor de uma pessoa? Está no estatuto daqueles que vieram antes dela? Tu mesma sabes que não! Vamos viver na minha propriedade, longe daqui: há lá florestas, um lago enorme, e muitas pessoas irão procurar a tua ajuda!” “E o teu serviço ao czar?” “O meu serviço terminou. O czar dispensou-me de todos os deveres. Já não confia mais em mim.” “Isso significa que ele foi incapaz de superar o seu orgulho, não admitiu que te fez mal. Parece que não o curei completamente.”, disse Matryonushka com tristeza. * * * Bronislav e Matryonushka foram para a distante propriedade e casaram-se. A sua vida comum era harmoniosa e boa. Matryonushka curava pessoas e ensinava-lhes sobre o bem. Bronislav parecia não ter muito que fazer. Um dia, alguns jovens vieram vê-lo. “O senhor é um herói.”, disseram. “Venceu tantas batalhas! Ensine-nos a lutar. Os rapazes mais velhos continuam a bater-nos e a bloquear o nosso caminho!” Bronislav aceitou ajudar. Primeiro, considerou o correto e o incorreto da questão. De seguida, começou a ensinar os mais jovens, que estavam sempre a ser perseguidos, a saberem defender os outros e a si mesmos numa luta de punhos. Depois de os ensinar, os meninos mais velhos, que costumavam ser os valentões, vieram ver Bronislav, admitiram os seus erros, e também lhe pediram que os ensinasse. E foi assim que as coisas prosseguiram. Certo dia, Bronislav perguntou a Matryonushka: “Na tua opinião, é bom que eu tenha começado a ensinar artes marciais às crianças?” “Sim.”, respondeu Matryonushka, “acho que sim. Mas ensina apenas aqueles que querem tornar-se fortes e bons! É importante ensinar a cada um deles como tornar-se no tipo de pessoa que Deus gostaria que nós, Seus filhos, nos tornássemos. Para isso, também é necessário explicar como apreciar a beleza, como criar bondade, como nos amarmos uns aos outros, e como servir a Deus! E, realmente, não importa se explicas isso juntamente com o conhecimento sobre como cantar lindamente ou como ser saudável e forte! Podes ensinar-lhes sobre: — O poder do bem; — Como defender os outros e ter a certeza de que nenhum mal atinge os mais vulneráveis; — Como lutar pelo que é correto e, ao fazê-lo, não temer a morte; — Como ser forte e não permitir que a fraqueza se torne covardia; — Como enfrentar o inimigo sem ira nem raiva; — Como aprender a vencer através do poder do bem; — Como, na vitória, não sucumbir ao triunfalismo sobre os vencidos; — Como ajudar os amigos. Aqueles que forem fortes e bons poderão conseguir qualquer coisa! Porém, se algum for bom, mas fraco, será escravo da sua fraqueza. Também podes ensinar-lhes a não apenas enfrentar um adversário, mas também a superar as suas próprias fraquezas e vícios. Este conhecimento de que falo – sobre a bondade da alma, sobre Deus –, é necessário para todos, não só para aqueles que sofrem de problemas de saúde! Também podes falar aos saudáveis \x{200b}\x{200b}sobre a beleza e o poder do amor. E podes ensinar a não rejeitar as Leis do Amor, mesmo quando se cumpre o dever de soldado! E assim Bronislav também começou a ensinar estas coisas. Tanto as crianças como os adultos vieram aprender. Ele ensinou-os a defenderem-se não apenas usando os punhos – ensinou-lhes tudo o que ele mesmo havia aprendido com Matryonushka. Incluiu tudo isso, discretamente, no conhecimento de como lutar. Quanto mais Bronislav ensinava outras pessoas, mais aprendia a entender. Gradualmente, um grupo de fiéis seguidores formou-se em torno de Bronislav, melhores do que todas as forças do czar! Certa vez, foi abordado por uns camaradas que queriam dar-lhe um conselho. “Se quisesses, poderias conquistar o país inteiro!” disseram-lhe. “Assim, poderias governá-lo como melhor te aprouvesse! És nobre de nascimento, com grande reputação, e as pessoas seguir-te-iam!” “Não quero uma guerra civil. Não tenho necessidade de fama militar. Não desejo governar as pessoas!” “Então porque precisas de seguidores leais?” “Até que a paz universal entre as nações, seja estabelecida na Terra, precisamos de uma força de apoio devidamente disciplinada, para que a paz e a ordem possam ser sempre defendidas por pessoas honestas, boas, sábias, corajosas e inteligentes!” * * * Mas a paz naquele país não durou muito. De certo modo, as pessoas esquecem-se das lições que a vida ensina! Embora o czar já tivesse olhado a morte de frente, e tivesse começado a governar de forma mais justa, ainda possuía um certo egoísmo e arrogância. Mais uma vez, começara uma disputa entre o czar e um governante de um reino vizinho. E, mais uma vez, as pessoas dos dois países começaram a preparar-se para a guerra! Os soldados do reino vizinho atacaram primeiro. De novo começaram a guerra e o derramamento de sangue. Porém, sem Bronislav, o exército do czar tinha perdido todo o sentido de coesão. Como tinham deixado de se preparar para a guerra, a disciplina nas fileiras rompeu-se. Os comandantes batiam-se por recompensas, altos cargos e honrarias, e esqueciam-se de organizar os soldados. Que soldado quer servir com honra, quando não há respeito pelos comandantes? Assim, aconteceu que as tropas do czar não estavam preparadas. Tudo isso se tornara evidente mal tinham começado as batalhas. Aflição e desespero espalharam-se pelo país, vilas foram queimadas, pessoas morreram. Os servidores do czar apressaram-se em ir ver Bronislav, de boina na mão. “O nosso chefe, o Czar, enviou-nos até si.”, disseram. “Salve o nosso país da invasão inimiga! Ele pede desculpa pela forma como o tratou no passado, e pelo mal que lhe causou. Não lhe guarde rancor!” Bronislav reuniu os seus fiéis seguidores. “Posso ir contigo?”, perguntou-lhe Matryonushka. “Tratarei dos feridos!” * * * Assim que Bronislav juntou a força dos seus leais seguidores às forças do czar e assumiu o comando, as derrotas acabaram. As partes em conflito depressa retornaram às antigas fronteiras que existiam previamente entre os países. Bronislav começou a negociar uma paz duradoura. Mas foi impossível chegar a qualquer tipo de acordo. Tanto sangue fora derramado, tanta gente perdera a vida, tanto ódio fora gerado pela guerra... Tudo o que todos queriam era vingança! Todos viam apenas a sua verdade e não queriam perdoar os outros! Entretanto, Matryonushka cuidava dos feridos. Não fazia diferença para ela se a pessoa ferida era das forças inimigas ou amigas. Ela cuidou e tratou de todos eles. Mas o comandante das forças opositoras decidiu que, se tomassem Matryonushka como refém, Bronislav – pelo bem da mulher que amava – concordaria com todas as suas condições. O inimigo apreendeu Matryonushka e enviou um mensageiro a Bronislav, com a notícia e uma lista de exigências. Matryonushka deduziu porque tinha sido raptada e amarrada a uma árvore em lugar de destaque, e começou a pensar como poderia libertar-se. Quando o soldado que a guardava começou a dormitar, decidiu experimentar o seu plano. Os pássaros da floresta voaram até ela e desamarraram as cordas dos seus braços. Tirou as correias das pernas e partiu em busca do seu próprio povo, sem tentar esconder-se. O guarda acordou. “Páre, páre ou disparo!”, gritou ele. Mas o guarda não conseguiu disparar a sua arma contra Matryonushka, tamanha era a compaixão que sentia por ela. Tinha visto como Matryonushka cuidava de todos os feridos, não importando de que lado estivessem a lutar. Matryonushka continuou a andar e viu-se entre as forças inimigas. O alarme soou no acampamento inimigo, e começaram a persegui-la. "Páre, senão disparamos!" Do outro lado, os soldados de Bronislav vieram rapidamente em seu socorro. O comandante das forças inimigas, enfurecido, ordenou a todos os seus soldados que disparassem contra Matryonushka. “Fogo!”, gritou ele. Matryonushka virou-se e olhou para os soldados, envolvendo-os no seu amor, procurando livrá-los do mal! Nenhum deles disparou. Nesta altura, o próprio comandante, impotente e rancoroso, disparou a sua arma. Uma! Duas! Três vezes! Os seus soldados lançaram-se sobre ele e tiraram-lhe a espingarda. Mas era tarde demais. * * * Bronislav assistiu a isto e percebeu que Matryonushka havia tentado trazer de volta a paz, mesmo à custa da sua própria vida. Ele ergueu o corpo da sua amada. Saiu de entre as duas forças opostas e começou a falar sobre paz, sobre as lágrimas de mães e esposas, de pais e filhos, sobre Deus, e sobre tudo o que Matryonushka lhe ensinara. Ninguém se atreveu a disparar a sua arma. Bravos guerreiros, que haviam passado por muitas batalhas anteriores, ouviram-no em silêncio. Jovens soldados bebiam as suas palavras em silêncio. Nem mesmo os comandantes ousaram levantar qualquer objecção. Então, as forças declararam uma trégua. Enviaram mensageiros aos seus czares, pedindo-lhes que declarassem uma paz duradoura entre si. Bronislav, curvando-se sobre o corpo da sua amada, de repente ouviu uma voz milagrosa: “Que todos aqueles que desejem ver Matryonushka ressuscitada tragam as suas mãos cheias da água do rio, e que no regresso, repitam as seguintes palavras à água: “Vida, Amor, Luz!” E essa água tornar-se-á a água da vida! Bronislav contou a todos o que escutara. Todos, ao mesmo tempo – soldados e comandantes de ambos os conjuntos de forças –, tiraram do rio um punhado de água, repetindo as palavras sagradas enquanto a transportavam nas suas mãos. Verteram a água sobre as feridas de Matryonushka. Até mesmo o comandante-chefe das forças opositoras o fez, num acto de arrependimento, tão impressionado estava com a bravura e o amor da mulher, que tratara de servir as almas humanas. A última pessoa a trazer as mãos plenas de água foi o próprio Bronislav. Quando estendeu as mãos e verteu a água na sua amada, Matryonushka abriu os olhos e ergueu-se, viva e saudável! Ela fez uma vénia a todos os soldados. “Transformaram esta água em água da vida! Agora, vão e lavem todos os feridos da mesma maneira, para que também possam ser curados e ressuscitados!” E foi assim que as hostilidades naquelas terras cessaram por muito tempo. O czar daquele país decidiu reformar-se. Como não tinha sucessores, nomeou o príncipe Bronislav como sucessor. Por muito tempo, Bronislav e Matryonushka governaram o país com sabedoria. Eles próprios viveram felizes, criaram filhos e ensinaram aos outros o propósito da vida na Terra. Eles diriam, acima de tudo, que a verdadeira felicidade só se alcança no Grande Amor! E que esse Grande Amor em cada pessoa começa a crescer do pequeno amor, da nossa preocupação com todo o ser bom, da escuta, da compreensão, da ajuda, e da compaixão. As pessoas daquelas terras contaram a seus filhos e netos sobre Matryonushka e Bronislav, por muitos e muitos anos. Se hoje as pessoas também se recordassem destes seus ensinamentos, haveria mais harmonia e felicidade na Terra! Estimados leitores e ouvintes, talvez digam que tais coisas não acontecem na realidade, e que só nos contos de fadas é que tudo termina bem. Mas já se perguntoaram porquê? |
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